1797 – Gracchus Babeuf e Darthé são guilhotinados em Vendôme

Morte dos dois põe um ponto final na “Conjuração dos Iguais”; para marxistas-leninistas, Babeuf é o primeiro teórico do comunismo

Em 26 de maio de 1797, Gracchus Babeuf e um acólito, Darthé, são guilhotinados em Vendôme. A morte dos dois põe um ponto final na “Conjuração dos Iguais”.

No século 20, em tempos do comunismo triunfante, Gracchus Babeuf era nas escolas soviéticas um dos mais conhecidos de todos os revolucionários franceses, comparável com o de Maximilien Robespierre. Com efeito, os marxistas-leninistas fizeram deste revolucionário o primeiro teórico do comunismo e da ditadura do proletariado.

Nascido em Saint-Quentin em 1760, François Babeuf, quem se faria denominar mais tarde como Gracchus em homenagem a um herói da Roma Antiga, exerceu antes da Revolução o ofício de agrimensor. Ao exercer essa função, teve contato e ficou sensibilizado com as duras desigualdades do campo à época do Antigo Regime.

No começo da Revolução, nomeado administrador do distrito de Somme, formula um projeto visando a abolição da propriedade individual. Mas, é somente sob o regime do Diretório que ele sai do anonimato.

Após a queda de Robespierre, novos ricos e novos pobres conviviam num comum desinteresse pela política, uns desejando usufruir das riquezas mal ganhas, outros lamentando em silêncio os bons velhos tempos do Terror.

A anarquia atingia o auge, a economia, totalmente desorganizada, o papel-moeda não valia absolutamente nada, os impostos não eram pagos nem cobrados, a administração funcionava apenas intermitentemente, a criminalidade se estendia sem ser reprimida, a miséria se instalava.

Esta situação revoltava os revolucionários puros. Em torno de Babeuf e de Lindet, um velho deputado jacobino da Convenção, reuniram-se Buonarroti, Marechal, Antonelle, Germain, Debon, Lepelletier e outros pequenos-burgueses fervorosos defensores da igualdade política – e jacobinos até a alma.

Em nome dos babuvistas, Sylvain Maréchal publica em 1796 o Manifesto dos Iguais, que preconizava a igualdade e, sobretudo, a tomada do poder pelos meios que fossem necessários.

Os babuvistas eram herdeiros ideológicos do materialismo francês do século 18, das ideias de Meslier sobre a revolução popular e do comunismo “racionalista” de Morelly e da experiência organizativa e ideológica das correntes mais à esquerda da Revolução Francesa.

Babeuf significava a ruptura da união entre o explorados – os plebeus – e a burguesia, união que se havia formado ao se levar a cabo a Revolução. Porém, em todo momento se deixou sentir a fragilidade de tal aliança, dado que a revolução burguesa pouco tinha a oferecer à parte mais indigente e explorada da sociedade, fato que ficou patente no período da reação termidoriana.

O babuvismo representou um passo adiante no desenvolvimento das ideias socialistas surgido na etapa histórica da consolidação do sistema capitalista na França. Os babuvistas tentaram, pela primeira vez, converter a teoria do socialismo em prática do movimento revolucionário. Ao lado da ideia de uma futura “República dos Iguais”, elaboraram um plano de medidas destinadas a assegurar a melhoria da situação das camadas mais pobres e permitir o esmagamento das forças contrarrevolucionárias. Defenderam a ideia que era indispensável conservar a ditadura dos trabalhadores depois do triunfo da revolução; enunciaram a tese de que a história é a luta entre ricos e pobres, patrícios e plebeus, amos e servos, fartos e famintos. Apesar de elementos de realismo histórico, o babuvismo não foi além da tática conspirativa. Isto o caracterizou como socialismo utópico, embora o trabalho ideológico de Babeuf e seus companheiros tenha se constituído em importante passo na transformação do socialismo de utopia em ciência.

Na primavera de 1796, os babuvistas se propuseram a derrocar o Diretório e restabelecer a Constituição de 1793, que jamais se exerceu na prática.

O Diretório sabia das intenções, mas não se decidiu agir. Contudo, Lazare Carnot, um dos Diretores, mobiliza a polícia e, graças às delações, manda prender os principais líderes do complô de 10 de maio de 1796.

Os jacobinos permaneceram fieis a Babeuf e Lindet e tentam na noite de 9 para 10 de setembro de 1796 trazer à sua causa os soldados do campo de Grenelle. Os soldados fingem aderir antes de executá-los no próprio local.

Ao condenar à morte os chefes desta “Conjuração dos Iguais”, o Diretório queria dar à opinião pública uma impressão de força, que se mostrou falaciosa. Queria também satisfazer a burguesia desejosa de ordem. Porém a eliminação da oposição jacobina de esquerda reanima a oposição monarquista, que havia sido violentamente esmagada pela repressão de Vendemiaire, dois anos antes.

 

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