Universidades, em vez de aeroportos

Carlos Chagas

Nunca é demais repetir episódios da vida de Voltaire. Jean Marie Arouet, na flor de seus vinte anos, foi para Paris, onde logo se lançou como cronista de costumes. Ao saber que o Regente da França, empenhado em promover a contenção de gastos, havia decidido vender a metade das cavalariças reais, escreveu que melhor seria livrar-se da metade dos asnos que rodeavam o trono.

Num domingo, passeando pelo Bois de Boulogne, o monarca deparou-se com Voltaire e disse: “monsieur Arouet, vou proporcionar-lhe uma visão de Paris que o senhor desconhece.” A guarda real aproximou-se e levou o cronista para a Bastilha, onde ficou preso por quase um ano.

Amigos intercederam, o jovem foi perdoado e Felipe ainda o gratificou com razoável pensão mensal, “para que pudesse prover suas despesas com alimentação e habitação”.

Voltaire agradeceu por carta, acentuando que ficava feliz pela preocupação do Regente com sua alimentação, mas quanto à habitação, não se preocupasse, pois ele mesmo a proveria.

Seguiu-se nova ordem de prisão e o cronista fugiu para a Inglaterra.

A historinha se conta a propósito de nosso Regente haver privatizado quatro aeroportos e comemorado o sucesso da venda a empresas estrangeiras. Bem que Michel Temer poderia ter feito diferente e, em vez de alienar patrimônio público, por que não transformar os quatro aeroportos em universidades abertas, à disposição de estudantes carentes? Melhor teria sido o investimento, em especial porque o dinheiro a ser recebido pelo governo logo sairá pelo ralo, sem nenhum proveito para a recuperação nacional.

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