Polícia alagoana mata 48% a mais, em três anos, mas crime resiste
Os 150 crimes violentos letais e intencionais (CVLIs) registrados no último mês de setembro, em Alagoas, consolidaram a tendência de o ano de 2017 terminar como mais violento do governo de Renan Filho (PMDB). Além disso, o volume acumulado de casos de “resistência com resultado morte” já põe 2017 como ano recordista em mortes de suspeitos de crimes, em abordagens policiais. A violência policial aumentou mais de 48%, desde 2014.O esforço estatal em combinar a justificativa de uma maior letalidade policial com o benefício da pacificação de Alagoas não impediu que 2017 tenha registrado o tombamento de 6,4% mais alagoanos alvos de todo a sorte de mortes violentas intencionais, com 1.455 vítimas entre janeiro e setembro.
Segundo os dados do Núcleo de Estatística e Análise Criminal (NEAC) da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Alagoas (SSP/AL), em 2013, a polícia matou 31 suspeitos; em 2014, foram 77; no primeiro ano de governo de Renan Filho, em 2015, foram 102 mortos e, no ano passado, 111. E, até setembro deste ano, já são 114 mortos pela polícia, uma média de 12,6 mortes por mês.
Tal fato mina o argumento de que a política de repressão violenta implantada por Renan Filho teria efeito psicológico “positivo” para pacificar o Estado, como foi em 2015, quando o número de CVLIs reduziu 17,6%, quando a política matou 33% a mais, em relação ao ano anterior.
Se comparada à violência policial registrada em todo o ano 2013 – penúltimo ano do governo de Teotonio Vilela Filho (PSDB) – o salto deste dado apenas nos nove meses de 2017 já atinge impressionantes 270% mortes a mais de suspeitos em supostos confrontos com a polícia.
‘INTELIGÊNCIA’
O avanço da carnificina nas abordagens a suspeitos contraria o resultado esperado de ações com base na inteligência policial, quando geralmente se prende os suspeitos sem dar um único tiro. Além disso, a alta letalidade da polícia também compromete a investigação de organizações criminosas, sem que haja sobreviventes para serem investigados, interrogados e processados.Nos últimos 12 meses, de outubro de 2016 a setembro deste ano, a totalidade de crimes violentos letais intencionais que vitimaram a população alagoana cresceu 7,15%. Percentual bem menor que os 36,5% de aumento da quantidade de mortos “em confronto” com a polícia alagoana.
Exemplo do risco de tal política de segurança foi o emblemático caso de abordagem violenta da polícia, que resultou em três mortes de inocentes, em 25 de março de 2016, em um ponto de ônibus da periferia de Maceió. Na ocasião, uma guarnição da PM matou os irmãos com deficiência intelectual, Josivaldo Ferreira Aleixo, 18, e Josenildo Ferreira Aleixo, 16, em abordagem policial que também vitimou fatalmente pedreiro Reinaldo da Silva Ferreira, que passava próximo à ação policial.
Um policial, Johnerson Simões Marcelino, foi preso acusado de homicídio e também responde por fraude processual em conjunto com o soldado Jailson Stallaiken Costa Lima, já que, segundo o Ministério Público, ambos teriam implantado armas e munições entre os pertences das vítimas para forjar uma reação armada dos jovens, que testemunhas confirmaram estar desarmadas.
O Diário do Poder quis saber como a SSP de Alagoas avalia o aumento dos CVLIs e dos casos de “resistência com resultado morte” no Estado. Mas não houve resposta aos questionamentos enviados por e-mail, aplicativo de WhatsApp e às tentativas de contato telefônico com a assessoria de imprensa da secretaria.