Dilma teria ordenado pente-fino nas cisternas de Fernando Bezerra
“O Planalto ordenou pente-fino nas denúncias de atraso de entregas de cisternas no Nordeste. O governo quer entender se a demora foi por dificuldade de acesso às localidades, como diz o Ministério da Integração, ou por razões políticas.
Onde pega
A pasta era comandada até recentemente por Fernando Bezerra, aliado de Eduardo Campos”.
Coincidência ou não, é o tema do editorial da Folha de São Paulo desta terça-feira. Veja abaixo.
Seca de competência
É uma confissão de incompetência a explicação dada pelo governo para o atraso na entrega de 130 mil cisternas à população afetada pela seca no semiárido brasileiro.
A promessa, feita pela presidente Dilma Rousseff em abril, deveria ter sido cumprida em julho –a temporada de chuvas termina no meio do ano. No entanto, somente 59 mil reservatórios de água foram entregues naquele período, como mostrou reportagem desta Folha.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo programa Água para Todos, a complexidade das licitações previstas para este ano, bem como da logística de transporte dos tanques, retardou o cronograma.
Faz pouco sentido o esclarecimento. Primeiro, porque o projeto existe desde 2011, e seria curioso que apenas agora certos percalços se tornassem conhecidos.
Mais importante, as cisternas não entregues, de polietileno, foram escolhidas há dois anos –em detrimento das de alvenaria, mais baratas e construídas com mão de obra local– porque supostamente permitiriam instalação mais célere.
Assumindo que estava correta a justificativa dada pelo ministério ao anunciar a compra dos tanques plásticos –e que não havia interesses escusos nessa negociação–, a conclusão é evidente: a pasta não teve competência para executar o objetivo anunciado por Dilma.
A cargo do mesmo ministério, o primeiro canal da transposição do rio São Francisco, que a princípio seria inaugurado pelo ex-presidente Lula em 2010, avançou apenas 1% no último ano e não ficará pronto até o fim do atual governo. Segundo o duvidoso discurso oficial, tais obras beneficiarão cerca de 12 milhões de pessoas.
O atraso nessas duas frentes deixa milhões de famílias com acesso precário à água nos períodos de seca. Tanto pior, o Nordeste atravessa uma das mais graves estiagens dos últimos 60 anos.
Ainda que a aposentadoria rural e os programas assistenciais amenizem os flagelos impostos pelo clima, são graves os efeitos da seca. Milhões de famílias veem-se impedidas de criar gado e cultivar a terra. Quando possível, enchem baldes em açudes; do contrário, só lhes resta os caminhões-pipa.
Nos dois casos, torna-se mais acentuada sua dependência em relação às transferências de renda.
É nefasta a hipótese de que políticos locais e federais tenham interesse em perpetuar essa relação de dependência. Por ridículo que pareça, é melhor imaginar que simplesmente não tenham capacidade para enfrentar os desafios oferecidos por este país.