Lula contra-ataca Eduardo Campos no Espírito Santo
Desde que o PSB se desvinculou do governo Dilma para lançar candidatura própria em 2014, o ex-presidente começou a cuidar do isolamento do partido
Depois de deixar clara sua função de cabo eleitoral de Dilma Rousseff na campanha à reeleição em 2014, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou seu trabalho em um campo que conhece bem: debaixo dos panos. É assim que se prepara para contra-atacar o PSB de Eduardo Campos, que rompeu com o PT para lançar o governador de Pernambuco como candidato à Presidência. Nos bastidores, Lula prepara artimanhas para isolar o partido de Campos nos estados e reforçar – onde ainda é possível – o elo com o PMDB para assegurar palanques mais consistentes para a presidente.
O Espírito Santo é um caso emblemático da manobra petista. O Estado da Região Sudeste com cerca de 2,6 milhões de eleitores é governado atualmente por Renato Casagrande, do PSB. Pré-candidato à reeleição, ele conseguiu manter unida no primeiro mandato a trinca PT/PMDB/PSB, que herdou de seu antecessor, o peemedebista Paulo Hartung. A aliança foi criada há doze anos e desenvolveu também uma boa relação com PSDB, DEM, PDT e PV – o que é capaz de tornar qualquer candidato praticamente imbatível.
No intuito de embaralhar a disputa e enfraquecer a campanha de Campos no Estado, o ex-presidente pretende criar uma nova frente liderada por PMDB e PT. Já chamou, inclusive, Hartung para uma conversa em São Paulo, em outubro. Cogita-se, inicialmente, uma chapa com o senador Ricardo Ferraço, do PMDB, ao governo, tendo um petista como vice. Hartung concorreria ao Senado. E o PMDB apoiaria a campanha de Dilma.
Divergências – Localmente, porém, o sonho do PT é manter o nome de Casagrande ao governo, acompanhado de um candidato petista ao Senado. A imagem do partido anda arranhada com os capixabas, que veem descaso na paralisação de obras do governo federal. É o caso do aeroporto de Vitória, cuja reestruturação começou em 2005 e foi embargada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A presidente também não foi mais vista por lá desde que venceu a eleição de 2010, mas há planos de levá-la em dezembro para anunciar o reinício da reforma do aeroporto da capital. Um encontro entre Lula e os correligionários do estado também está para ser marcado. “Nosso projeto nacional está acima do local, mas não temos vontade de romper com o governo do Espírito Santo”, diz o presidente do diretório estadual do PT, José Roberto Correa do Nascimento.
Não é somente com o próprio PT que as arestas precisarão ser bem acertadas se Lula quiser levar seus planos adiante para 2014: os peemedebistas também não estão dispostos a romper repentinamente com Casagrande, que tem boas chances de se reeleger. O deputado federal Lelo Coimbra chegou a anunciar que o partido deixaria as pastas que ocupa no governo atual, mas teve de recuar. “Disse ao governador que o PMDB não teria mais responsabilidade pelos cargos, e que ele ficasse à vontade”, conta ele, sem esperar que os secretários quisessem permanecer – respaldados pelos deputados estaduais.
Em meio ao cabo de guerra, Casagrande prefere ficar neutro e deixar o jogo político em suspenso até quando puder. O pacto é simples: o governador do PSB não faz campanha para ninguém – nem para Eduardo Campos, que aprova a postura -, desde que continue a ter PT e PMDB sob sua influência. “Entendemos que o nosso governador constrói, a partir da neutralidade, as condições para um palanque robusto”, frisa o presidente da seção capixaba do PSB, Macaciel Breda. Mas caso alguma das legendas decida lançar candidatura própria, Casagrande voltará toda sua força política a favor de Campos.
Fonte: Veja