Dois policiais militares são donos de uma imobiliária que vende imóveis e terrenos ilegais na Colônia Juliano Moreira, área explorada pela milícia para grilagem de terra na Zona Oeste do Rio. A empresa GG Consultoria Imobiliária anuncia, em redes sociais, apartamentos em outras áreas exploradas por paramilitares, como Muzema e Rio das Pedras, todas na Zona Oeste. Até a última quarta-feira, no entanto, os dois agentes — um cabo e um soldado — estavam lotados justamente no batalhão responsável por patrulhar todas essas áreas: o 18º BPM (Jacarepaguá).
A imobiliária começou a ser investigada pela Corregedoria da PM em janeiro deste ano, após cartazes com a logomarca da firma anunciando imóveis serem espalhados pela Colônia Juliano Moreira. À época, os dois PMs eram lotados na P2, o Serviço Reservado, do 31º BPM (Barra da Tijuca). Como ambos integram o quadro societário da empresa — o soldado, inclusive, figura como sócio-administrador —, logo a PM descobriu que a imobiliária era dos policiais. O comando do 31º BPM, então, transferiu os dois PMs para unidades diferentes: o cabo foi para o 40º BPM (Campo Grande) e o soldado, para o 14º BPM (Bangu).
Entretanto, meses depois, com a investigação ainda em andamento, ambos voltaram a trabalhar juntos. O soldado foi o primeiro a ser transferido para o 18º BPM, no dia 18 de junho. Já a transferência do cabo aconteceu duas semanas depois, em 2 de julho. Na época, o coronel Rubens Peixoto Junior comandava o batalhão.
Pouco depois de receber os agentes, Peixoto deixou o comando da unidade para assumir um cargo de prestígio na corporação: em 18 de julho, o oficial foi nomeado subsecretário de Inteligência pelo secretário da PM, coronel Rogério Figueredo. O tenente-coronel Roberto Christiano Dantas assumiu o 18º BPM em seu lugar.
Com o novo comando, os PMs donos da imobiliária foram novamente transferidos, para duas UPPs diferentes. Simultaneamente, o batalhão passou a fazer operações sistemáticas de combate à milícia na Colônia Juliano Moreira. Na quinta-feira, uma ação conjunta da unidade com a prefeitura demoliu 17 imóveis ilegais que haviam sido erguidos pela milícia na região.
Carro como pagamento
Uma página no Facebook com o nome da imobiliária anuncia diversos imóveis na Colônia Juliano Moreira, em Rio das Pedras e na Muzema. As fotos dos empreendimentos mostram casas e apartamentos ainda em construção. Nos textos em que anuncia os imóveis, a imobiliária informa que aceita “carro como parte do pagamento”. Dois números de celular acompanham as postagens, com os nomes de ambos os PMs ao lado.
O EXTRA entrou em contato para saber se um imóvel anunciado por R$ 60 mil tinha escritura e era legalizado. O interlocutor negou:
— Lá é instrumento particular de compra e venda. Com escritura eu tenho também, mas só por R$ 230 mil. É muito mais caro.
Além de serem investigados por ligação com a milícia, os dois PMs donos da imobiliária descumprem o estatuto da corporação. Ele determina que agentes da ativa não podem “tomar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou participar”.
Após o início da investigação da Corregedoria, em janeiro, o site da imobiliária saiu do ar. A firma também parou de fazer postagens em sua página no Facebook. A investigação da Corregedoria está em andamento.
Tanto a PM quanto a prefeitura confirmam que a milícia explora imóveis ilegais e invade terrenos na Colônia Juliano Moreira, que tem uma área do tamanho de Copacabana. A operação conjunta da última semana teve como objetivo “coibir obras irregulares e invasões de milícias nas áreas de preservação”.
Questionada sobre o motivo da transferência dos agentes para o 18º BPM mesmo sendo investigados, a PM não respondeu ao EXTRA.