Pérolas negras, prateadas e estampadas
Tanto nos áudios, como nos visuais, há mestres maiores aqui para se manifestarem. Certo, Luciano Hortêncio e Wilson Ferreira? Permitam-me, pois, ousar. Com os áudios, desta vez.
Por Rui Daher
Homens e mulheres que confirmam os votos que ouviram em seus aniversários, “muitos anos de vida”, 74 por exemplo – parabéns ao presidente maior do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva – conheceram e passaram por sucessivas etapas tecnológicas dos audiovisuais.
Tanto nos áudios, como nos visuais, há mestres maiores aqui para se manifestarem. Certo, Luciano Hortêncio e Wilson Ferreira? Permitam-me, pois, ousar. Com os áudios, desta vez.
Moleque ainda, na Santa I(E)figênia de meus pais (a Cúria Metropolitana de São Paulo ainda não me esclareceu a grafia da santa negra), convivia entre espessos discos 78 rpm (rotações por minuto) e menorzinhos, os 45 rpm, fabricados em goma-laca.
Predominavam sambas, sambas-canções, boleros, serestas, valsas, marchinhas, dobrados, em vozes maravilhosas de cantores e cantoras. Ficaram famosos, ainda são tocados, vocês conhecem.
Até então duas músicas, lados A e B. Ainda foi nessa forma que ganhei “Chega de Saudade”, em 1958, meu aniversário de 13 anos.
Foram, gradativamente, minguando durante a primeira metade do século 20, até o aparecimento dos vinis, os long-plays, a partir do início dos anos 1950. Claro que, como tudo que se refere à tecnologia, as décadas progridem a partir das nações hegemônicas. Mas falo de Brasil.
Hoje conto 420 vinis em minha casa. Raridades. Dos sambas, MPB, jazz, blues e rock. Clássicos? Aprecio. Só. Sou muito mambembe para o erudito.
Mas aí vieram os CD, os LVD, os DVD. Os segundos, um profissional, garoto ainda, transformou tudo no terceiro. O mesmo com alguns filmes e fitas de shows em VHS. Ainda guardo 100 deles, junto aos cerca de três mil livros.
Foi, no entanto, junto aos CD que me excedi. Vixe, não dá para contá-los. Apenas o prazer de enfiar a mão e de lá tirar centenas de pérolas e poucas merdas. Sempre soube me proteger do Bolsonarinato, Dorianato, Lucianato, que um dia chegariam à cultura brasileira.
Vivam Tom, Vinícius e João!
Pois não é que nesta semana, nem sei quando, voltando de províncias agrárias, e repito o hábito: enfiar a mão na fileira de caixinhas e ver o que virá.
Uma pérola rara! “Bossa Nova, sua história, sua gente”. CD duplo, produção para Phonogram, de Aloysio de Oliveira, em 1975.
Querem saber que está lá? Mário Reis, Dick Farney, Norma Bengell, Dóris Monteiro, Nonato, Billy Blanco, Os Cariocas, Lúcio Alves, Elizete, Leny, Agostinho, Tamba Trio, Luiz Eça, Quarteto em Cy, Edu Lobo, Baden, Astrud, Vinícius, Toquinho, João, Chico, Maysa, Sérgio Ricardo, Oscar Castro Neves, Claudete Soares, Sylvinha Telles, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Nara, Lennie Dale, Zimbo Trio, Jorge Bem, MPB-4, Rosinha de Valença, Elis, Tom.
Precisa mais para sabermos o que foi o movimento cultural brasileiro na época? Da música, aos cinemas, teatro, TV, humor, literatura. Como aí enquadrar Luan, Teló, Fiuk e Anitta com suas vacas leiteiras grávidas?
Sim. Os aplicativos. Spotfy, Accuradio, outros, por imposição de filhos, amigos mais jovens e comodismo, uso-os. Pra enganá-los e mostrar-me um pai moderno.
O que gosto mesmo é de enfiar a mão na pilha de CDs e descobrir o que virá.