Nova versão para morte de JK ignora investigações anteriores

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A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo divulgou na semana passada um documento composto por 90 pontos com supostos indícios de que a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek foi resultado de uma conspiração dos militares. A tese, no entanto, é contrária a de Comissão Externa constituída em 2001, na Câmara dos Deputados, requerida pelo ex-deputado Paulo Octávio, casado, com a neta de JK, Anna Cristhina Kubitschek.

Na época, a Comissão colheu depoimentos dos peritos que trabalharam na investigação da morte de JK em 1976, Sérgio de Souza Leite e Roberto Freitas Vilarinho e do ex-diretor Departamento Técnico e Científico da Polícia do Estado do Rio de Janeiro, Francisco Gil Castello Branco, que conduziu as investigações na década de 70. Além disso, convocou dois peritos totalmente desvinculados do processo inicial, João Bosco de Oliveira e Ventura Raphael Martello Filho, para assessorar a Comissão Externa da Câmara.

Após ouvir inúmeros depoimentos, viajar ao Chile atrás de eventuais conexões com a Operação Condor e reconstituir a ultima viagem de Juscelino Kubitschek, a Comissão foi taxativa em desconsiderar a tese de assassinato. Segundo a conclusão do relatório, “por mais que se exercite a imaginação e criatividade”, não existem argumentos sólidos, balizados, lógicos ou técnicos que indiquem que ao contrário à um acidente.

“Os menores, detalhes não passaram despercebidos. Investigamos todas as dúvidas, todas as suspeitas. À medida que as questões foram sendo esclarecidas e respondidas, a conclusão foi-se impondo inexoravelmente […] Ao final destes trabalhos, não resta mais dúvidas de que a morte de Juscelino Kubitscheck foi causada por um acidente automobilístico, sem qualquer resquício da consumação de um assassinato encomendado”, concluiu a Comissão de 2001.

O resultado das investigações de 2001 são apoiados por Maria Estela Kubitschek, filha do ex-presidente, e por Maria de Lourdes, filha do motorista Geraldo Ribeiro. Em depoimento à Comissão Especial da Câmara, Maria de Lourdes constestou a versão de assassinato. “Na qualidade de representante legal e afetiva da família, diante dos fatos, da credibilidade do IML na época e dos laudos emitidos em vários estados, acredito até hoje que a perícia de 1976 estava correta. Isto é, que meu pai, Geraldo Ribeiro, não foi atingido por projétil de arma de fogo”.

Procurado pelo Contas Abertas, o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente do grupo paulista responsável pelas investigações que “comprovam” que JK foi assassinado, disse desconhecer a investigação de 2001. Além disso, o seu assessor, Ivo Patarga, que auxiliou as investigações, não sabia, por exemplo, que os peritos oficiais do caso ainda estavam vivos. Patarga afirma que qualquer investigação na época da ditadura foi influenciada pelo regime.

Para Natalini, as provas apontadas no relatório da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo são fortes e comprovam que foi um assassinato político. Mesmo assim, o vereador já afirmou que poderá ouvir os peritos iniciais para fazer uma acareação sobre o assunto.

Contestações

Em 1996, após a morte da ex-mulher de JK, Sarah Kubitschek, o ex-secretário do político, Serafim Jardim, autor do livro Juscelino Kubitschek — Onde está a verdade?, pediu a exumação do corpo do motorista Geraldo Ribeiro. A suspeita, constestada até hoje, era de que o motorista havia levado um tiro antes do acidente que vitimou os ocupantes do Opala.

Porém, a suspeita foi refutada pelo médico-legista Márcio Alberto Cardoso, responsável pela exumação do cadáver em 1996, vinte anos após o acidente. Segundo ele, há fotos que mostram o crânio de Geraldo intacto, assim que foi tirado da urna no cemitério de Belo Horizonte. “Não havia perfurações ou fratura no crânio dele. O que achamos foi um prego, que chamamos de cravo, usado para fixar uma estrutura de pano nos caixões”, afirma.

Em entrevista ao Correio Braziliense, o perito Ventura Raphael Martello Filho, convocado para assessorar a Comissão Externa da Câmara, confirmou a impossibilidade de ter acontecido um atentado. “Com 40 anos de experiência, não consegui descobrir, por meio de laudos, fotos, recursos técnicos e análise do local, que houve ali outra coisa a não ser um acidente de trânsito. O parecer técnico foi feito. Há uma série de impropriedades e argumentos infantis (como as teorias de conspiração)”, avalia Martello.

Congresso Nacional

O deputado Walter Feldman (PSB-SP) apresentou à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara um requerimento convidando para audiência pública o presidente do colegiado paulistano, vereador Gilberto Natalini (PV), o ex-secretário de JK Serafim Jardim e o perito criminal Alberto Carlos de Minas.

O requerimento deverá ser votado na próxima quarta-feira (18/12). Os três convocados defendem a versão de que o ex-presidente foi assassinado. Até o momento, os peritos iniciais ( Sérgio Leite e Villarinho), o legista que exumou o cadáver ( Márcio Cardoso) e os peritos que assessoraram a Comissão Externa ( João Bosco e Raphael Martello) não foram incluídos entre os que prestarão depoimentos.

Fonte: Contas Abertas

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