O legado de Carolina Maria de Jesus

Apesar da relevância literária, poucas pessoas conhecem a obra de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), uma das figuras mais inspiradoras da literatura brasileira é que deveria ser obrigatória nas escolas.
Ela com seus três filhos
Internacionalmente reconhecida por sua obra “Quarto de Despejo”, Carolina é um ícone da superação, destacando-se como uma mulher negra, pobre e favelada que conseguiu realizar seu sonho de se tornar escritora, deixando um legado literário que ultrapassa fronteiras.
Carolina nasceu em Sacramento, Minas Gerais, e sua jornada de vida foi marcada por adversidades. Ela era mãe solteira, catadora de papel e moradora da primeira favela de São Paulo, a Canindé. Apesar das dificuldades, tornou-se uma ávida leitora e escritora autodidata. Apesar de ser semi-analfabeta, registrava sua vida e as vidas dos outros moradores da favela em cadernos encontrados no lixo, revelando em suas palavras a miséria, a fome e o preconceito enfrentados diariamente por aqueles que viviam à margem da sociedade.
A expressão “quarto de despejo” era usada pela escritora para descrever a favela, onde os pobres eram relegados como objetos descartados.
Na visão de Carolina, a literatura era a chave para adquirir boas maneiras e desenvolver o caráter. Seu primeiro livro, “Quarto de Despejo”, foi publicado em 1960 e rapidamente alcançou sucesso internacional, sendo traduzido para 13 idiomas e vendendo mais de 100.000 exemplares.
O livro oferece um retrato cru e comovente da vida na favela, revelando a luta pela sobrevivência e a resiliência do ser humano.
Além de “Quarto de Despejo”, Carolina também escreveu poesias notáveis que refletem sua sensibilidade e observação perspicaz da realidade.
Um trecho de sua poesia diz:
“Poeta, por que choras?
Que triste melancolia.
É que minh’alma ignora
O esplendor da alegria.
Este sorriso que em mim emana,
A minha própria alma engana”
Apesar da relativa fama internacional, Carolina Maria de Jesus não ficou rica, porém conseguiu sair da favela e comprar uma casa em um bairro mais tranquilo de São Paulo, graças ao dinheiro obtido com a venda de seus livros.
O final da vida de Carolina foi marcado por dificuldades financeiras e pelo esquecimento por parte do público e da mídia. Ela continuou escrevendo, mas suas obras subsequentes não alcançaram o mesmo sucesso que “Quarto de Despejo”.
Carolina Maria de Jesus faleceu aos 62 anos, em 13 de fevereiro de 1977, em uma situação de relativa obscuridade, em um sítio na periferia de São Paulo, porém seu legado literário e sua história de superação continuam a inspirar muitas pessoas até hoje, com exceção daquelas que se utilizando das questões raciais viajam com jatos da FAB ou aviões de carreira pelo mundo, fazendo turismo internacional, enquanto vendem a miséria de um país, torrando sem pudor o dinheiro público que poderia dar uma vida melhor aos personagens vítimas do racismo e do desprezo social.
Mas é aquela velha história: quem vocês acham que recebe salários altos, uma vida de luxo, afagos da mídia e teses em universidades? Escritores como Carolina ou vagabundos militantes, hipócritas, porém muito bem assessorados?
Este é, foi e sempre será sendo o Brasil.

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