Os Black bandidos

 

Sebastião Nery

Morto Lampião, Ângelo Roque, o “Labareda”, cangaceiro, terceiro na hierarquia do bando, logo depois de Virgulino e Corisco, entregou-se às autoridades de Geremoabo, no sertão da Bahia. Foi a Júri. Tarcílo Vieira de Melo, o promotor, depois líder de Juscelino na Câmara Federal, acusou-o com agressividade. Oliveira Brito, Juiz, depois ministro do governo João Goulart, chamou-o de “desordeiro”.Labareda” levantou-se do banco de réu:

– Desordeiro, não. Os senhores me respeitem. Não sou um desordeiro, sou um cangaceiro. Não fui pegado no mato. Cheguei aqui de armas na mão, com minha cara limpa, meu corpo e minha vontade e me entreguei, confiando na palavra das leis.

Ninguém mais o agrediu.

LABAREDA

“Labareda”, pequenininho e valente, não disse mais palavra. Quando acabou tudo, condenado, ele se queixou ao meu amigo o  tenente e advogado João Nô, que o prendera nos sertões da Bahia:

– Tenente, perdi meu tempo no cangaço. Eu pensava que a pior coisa deste mundo era soldado de polícia. Passei a vida empiquetando (emboscando) soldado de polícia  Hoje, chego aqui preso, os soldados me tratam bem e  não disseram uma palavra contra mim. Mas aquele promotor falador e aquele juiz magrelo me disseram tudo quanto foi desaforo. Se eu soubesse, tinha passado meu cangaço empiquetando promotor e juiz.

LAMPIÃO

Cangaceiro era desordeiro, era criminoso, mas tinha caráter. Lutava com a cara de fora. Jogava a vida nas estradas.

Não viviam  escondidos atrás de máscaras, como esses black blocs nazifascistas, andróginos, sem ideologia e sem projeto, cuja histeria é sair quebrando tudo, janelas  e vitrines comerciais, sinais de trânsito e placas de rua, prédios públicos e privados, seculares monumentos nacionais, Palácios, sedes de Governo, Câmaras e Assembleias.

OAB E SEPE

Causa espanto, vergonha e asco ver entidades que têm deveres com a Nação, como a OAB, SEPE (Sindicato de Professores), jornalistas experientes, vereadores, deputados, partidos políticos, como babás do mal, acoitando, defendendo, protegendo, tentando justificar  esses covardes bandidinhos de capa preta.

Em alguns países vivi, em outros estive, onde fascismo e nazismo, brutais ditaduras, começaram. E começaram sempre assim: blocos de ataque escondendo-se atrás de roupas pretas, bonés e mascaras pretas,calças e camisas pretas ou marrons. E cabeças rolando nas avenidas ensanguentadas.

Levianamente desvairadas elites levam suas irresponsabilidades  e malditos interesses até um dia acordarem e não dá mais tempo. Seus filhos e netos levantarão muros e museus para chorarem o passado.

IMPRENSA

Escrevi essa coluna  ai em 22 de outubro de 2013. Em nenhum instante deixei-me enganar pelo vandalismo dos black blocs.

Surpreendia-me a estranha ingenuidade ou má fé de alguns colegas da imprensa, a serviço não sei de quem, mas evidentemente daqueles que tinham interesse em detonar as manifestações populares com as máscaras e  botas pretas. O nome deles era óbvio: capitães do mato do governo.

Agora estamos todos aqui desolados com o assassinato do Santiago.

HELOISA

Sempre brilhante e lúcida, a jornalista e escritora Heloisa Seixas pôs o dedo na ferida, em artigo no “Globo”:

“- Os black blocs, ou seja lá  que nome tenham, vinham dando sinais nos quais devíamos ter prestado mais atenção: havia  tintas de neonazistas no comportamento deles, inclusive na hostilidade à imprensa…

Poucos de nós, na imprensa, tivemos coragem de escrever contra eles com a força necessária… Melhor ficarmos quietos, em nome da democracia. Em nome do direito à livre manifestação – mesmo com bombas e pedras. E agora estamos assim, como meu amigo da Bandeirantes. Com esse nó na garganta, essa pergunta presa no peito: será que nosso silêncio constrangido nos faz cúmplices na morte de Santiago?”

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