Tarcísio Meira, o astro da televisão brasileira

O paulistano Tarcísio Meira nasceu, em berço de ouro, no dia 05 de outubro de 1935. Seu pai, Raúl Pompéia Pereira de Magalhães pertencia à aristocracia mineira, da mesma cepa de onde vieram o cientista Vital Brazil e o empresário Oscar Americano. Sua mãe, Maria do Rosário Meira, era de tradicionais troncos paulistas, tais como os Arruda Botelho, os Paes Leme, os Cerqueira Cesar e os Penteado.
Por consequência, sua infância foi tranquila e sua adolescência não foi pressionada por necessidades financeiras ou de iniciar rapidamente uma carreira profissional. Tarcísio queria ser diplomata, mas desistiu da ideia ao ser reprovado na primeira prova que fez para o Instituto Rio Branco, em 1957.
Voltou-se, então, para a carreira artística: estreou, ainda em 1957, na peça “Chá e Simpatia” (Robert Anderson) e seu primeiro grande momento ocorreu ao dividir o palco com Sérgio Cardoso em “Soldado Tanaka” (George Kaiser). Tarcísio conta:
“Foi em dezembro de 1959. Eu era muito jovem, e o personagem era muito forte, muito duro, rascante, metálico. Era uma grande responsabilidade. Sérgio Cardoso era o ícone do teatro brasileiro”.
Sua estreia na TV, em 1961, foi no mítico Grande Teatro Tupi, contracenando com Glória Menezes em “Uma Pires Camargo” (Geraldo Vietri). Começa, aí, uma história de amor para toda a vida: Tarcísio e Glória se casaram no ano seguinte, e desta união, nasceu, em 1964, o ator Tarcísio Filho.
Em 1963, o casal trocou a Tupi pela Excelsior, onde participou da primeira novela da televisão brasileira, “25499 Ocupado” (Dulce Santucci), com sucesso estrondoso. Na mesma época, Tarcísio faz sua estreia no cinema, com “Casinha Pequenina” (Mazzaropi). Nos anos seguintes, trabalhou em mais nove novelas da Excelsior, entre elas “Ambição” (1964), “A Deusa Vencida” (1965) e “Almas de Pedra” (1966), todas de Ivani Ribeiro.
A TV Globo contratou o casal Tarcísio e Glória, em 1967, para fazer a novela “Sangue e Areia”. Janete Clair adaptou, para a TV, este romance do espanhol Blasco Ibañez, iniciando, com o casal, uma parceria duradoura: eles protagonizaram mais seis novelas da autora. Uma delas, “Irmãos Coragem” (1970), na qual Tarcísio viveu o mocinho João Coragem, em seu penúltimo capítulo, teve mais audiência que a final da Copa do Mundo em que o Brasil se tornou tricampeão…
Nas comemorações do sesquicentenário de nossa Independência, Tarcísio volta às telonas para dar vida a um sedutor D. Pedro I em “Independência ou Morte” (Carlos Coimbra). Nas novelas, além de Janete Clair, Tarcísio Meira teve outra parceria bem-sucedida: Lauro César Muniz. Em “Escalada” (1975) – uma das novelas de Lauro – o ator viveu Antônio Dias, personagem que interpretou desde a juventude até os 70 anos.
A metade da década de 1970 também marca o amadurecimento artístico de Tarcísio Meira, ao assumir personagens mais complexos e produções mais ousadas, transcendendo o rótulo de galã da família brasileira. No cinema, trabalhou com Glauber Rocha em seu último e mais polêmico filme, “A Idade da Terra” (1981); em “O Beijo no Asfalto” (Bruno Barreto), baseado na peça de Nelson Rodrigues, seu personagem beijou o de Ney Latorraca, na boca; no teatro, interpretou um homossexual na peça “Um Dia Muito Especial” (1986), baseada no filme homônimo de Ettore Scola; e na TV, fez seu primeiro personagem cômico, em “Guerra dos Sexos” (Silvio de Abreu – 1983).
Os personagens vividos por Tarcísio Meira, saem – quase sempre, neste período – de obras literárias: em 1984, fez a minissérie “Meu Destino é Pecar” (Euclydes Marinho), a partir do folhetim de Nelson Rodrigues. No ano seguinte, interpretou o Capitão Rodrigo Cambará, na minissérie “O Tempo e o Vento” (Doc Comparato e Regina Braga), baseada na primeira parte da trilogia de Erico Verissimo (“O Continente”). Ainda em 1985, ele atuou em mais uma minissérie: “Grande Sertão: Veredas” (Walter George Durst) do livro de Guimarães Rosa.
Mesmo voltando às telenovelas, Tarcísio não mais interpreta papéis “simpáticos”, nem em “Roda de Fogo” (Lauro César Muniz – 1986), ou em “De Corpo e Alma” (1992), “Fera Ferida” (1993), “Pátria Minha” (1994), ‘O Rei do Gado’ (1996) e “Torre de Babel” (1998).
Na verdade, o desempenho de Tarcísio Meira seguiu marcante nas minisséries: em ‘Desejo’ (Gloria Perez – 1990), brilhou interpretando outra figura histórica: o escritor Euclides da Cunha; “Araponga” (Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar – 1990), com estrutura de telenovela e ritmo de minissérie; “Hilda Furacão” (Gloria Perez – 1998), a partir do romance de Roberto Drummond; e “A Muralha” (Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro), adaptação do livro de Dinah Silveira de Queiroz.
Já no século XXI, Tarcísio participou de algumas outras novelas batendo, talvez, um recorde mundial: segundo ele próprio, foi “o cara que mais decorou palavras no mundo”. Só na televisão, foram mais de 60 trabalhos, entre novelas, seriados e minisséries, teleteatros e telefilmes; no cinema, mais duas dúzias de filmes. Mesmo com tanta produtividade, a Rede Globo decidiu-se por encerrar os contratos com Tarcísio e Glória em 11 de setembro 2020, depois de 52 anos na emissora.
Após a “aposentadoria”, o casal foi cuidar de gado e plantações em Porto Feliz, no interior de São Paulo. Quase um ano depois, em 6 de agosto de 2021 o casal foi internado no hospital Albert Einstein em São Paulo, com diagnóstico de COVID-19. Tarcísio morreu seis dias após a internação. Antes de morrer, Tarcísio pediu para que suas cinzas fossem jogadas na fazenda de Porto Feliz. Assim se fez.

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