Família de Índios Brasileiros

Os Índios aldeados catequizados que viviam em proximidade com os portugueses participavam ativamente da economia. Muitos saiam de suas aldeias para trabalharem nos engenhos que pertenciam aos jesuítas como assalariados, também iam para as cidades e vilas onde trabalhavam como empregados domésticos ou eram recrutados como soldados para guarnecer as cidades
Em 1927 o Antropólogo Suíço Alfred Métraux descreveu o índios tupis aldeados: “O tupi era o mais assimilável e inteligente. Pescava, navegava nas suas canoas monóxilas ou entrançadas de palha, era igualmente agricultor, cultivando em roças temporárias a mandioca, o milho, a batata, o fumo, e as mulheres coziam o barro, em que moldavam um tosco vasilhame, melhor do que a “cuia” dos tapuias, e teciam fibras moles para as redes (toda a sua comodidade) e os ornamentos. Construíam casas de coivaras, cobertas de pindoba, – em geral vastas cabanas que comportavam até trinta famílias, e as suas aldeias tinham ao redor paliçadas, que as defendiam”.
Com o passar dos séculos muitas das aldeias jesuíticas do Rio de Janeiro, da Bahia, de São Paulo e de Pernambuco se esvaziaram, devido aos casamentos mistos entre índios e portugueses, que por serem mestiços, seus filhos e netos acabavam por deixar suas identidades indígenas e se tornarem brasileiros.
Gilberto Freyre, em Casa-Grande & Senzala, considerou o elemento indígena como importante formador da identidade social brasileira, principalmente nos primeiros séculos de contato com os europeus, atribuindo um papel essencial às “cunhãs”, as mulheres nativas:
“Para a formidável tarefa de colonizar uma extensão como o Brasil, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da Índia. E não seria com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebeia, além do mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do norte, que se estabeleceria na América um domínio português exclusivamente branco ou rigorosamente europeu. A transigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhia de Jesus salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristão”
Segundo as contagens oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), menos de 0,5% da população brasileira é formada por indígenas. Os mais de 240 povos somam só 896.917 pessoas, segundo o último Censo, de 2010. Dessas, três em cada nove vivem em cidades, e o restante, em áreas rurais
Uma pesquisa informou que os brasileiros, brancos, pardos ou negros, apresentam um grau uniforme de ancestralidade indígena, normalmente abaixo dos 20%. Existe, contudo, discrepância regional. Enquanto que na amostra de Manaus, capital no Amazonas, 37,8% da ancestralidade da população é indígena, em Santa Catarina é de apenas 8,9%
As uniões e os matrimônios mistos foram comuns e estiveram presentes nas relações interétnicas desde os primeiros encontros e contatos entre índios e europeus no Brasil. Indios e portugueses valoravam e instrumentalizavam de modo diverso os casamentos mistos. Os tupinambás, por exemplo, incorporaram os primeiros europeus à sociedade nativa segundo seus próprios interesses, respeitando a geopolítica de suas alianças de guerra e de matrimônio.
O Cunhadismo era uma instituição indígena que consistia na prática de se dar uma moça índia como esposa. Com isso, se estabelecia mil laços que ligavam o estrangeiro com todos os membros do grupo. Em sua função civilizatória, o cunhadismo fez surgir a numerosa camada de indivíduos mestiços que ocupou efetivamente o Brasil. Nesse sentido, funcionou como um criatório de gente miscigenada nas regiões onde “náufragos” e “degradados”, vindos da Europa, se assentaram.
Sem a prática do cunhadismo, era impraticável a criação do Brasil. Os povoadores europeus que aqui vieram ter eram uns poucos náufragos e degredados, deixados pelas naus da descoberta, ou marinheiros fugidos para aventurar vida nova entre os índios. Por si sós, teriam sido uma erupção passageira na costa atlântica, toda povoada por grupos indígenas.
Fonte: Adams, C., Murrieta, R., & Neves, WA (2006). Sociedades caboclas amazônicas: modernidade e invisibilidade. /Revisiting the Genetic Ancestry of Brazilians Using Autosomal AIM-Indels.

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