Prefeito invade rádio, acaba com programa e ameaça repórter
Da Redação
Depois do ato de invasão à uma rádio comunitária praticado pelo prefeito do município de Pilão Arcado-BA, João Porfírio (PMDB) e seus seguranças no dia 28 de fevereiro, continua ainda o temor de que algo pior possa acontecer no município devido a questões relacionadas a política. Na Bahia, o município é famoso por ser um dos mais violentos, isso devido a falta de condições e ações da própria justiça e de aproveitamento de alguns políticos que se escondem atrás de legendas partidárias e cometem todo tipo de arbítrio.
Inúmeras vezes, jornalistas e repórteres foram obrigados a saírem da cidade escoltados pela policia. Como se não bastasse o primitismo – continua escancarada a afronta à Constituição onde uma Lei Orgânica, ou Regimento da Casa Legislativa, são superiores a Lei Maior. Isso é o que acontece na Câmara de Vereadores, onde a imprensa só pode fazer uma entrevista, ou bater foto durante uma sessão ordinária se tiver autorização, caso contrário corre o risco do profissional ser algemado e preso. A Casa é composta por vereadores do PT, PCdoB, PV, PMDB, PSB e outras legendas que se dizem fazer parte da história da democracia do país.
A vítima dessa foi Valdir Barreto que trabalhava como apresentador de um programa na Rádio Comunitária Tropical FM. “Eu tinha um programa que ia ao ar das 11h as 12h, de segunda a sexta. No segundo dia de trabalho uma ouvinte participou ligou a relatou alguns problemas que estariam acontecendo no hospital municipal. Em seguida, ela tentou abordar um assunto relacionado a vida do gestor municipal, o que não foi permitido. Minutos depois fui surpreendido dentro da rádio de maneira brusca pelo prefeito – que estava acompanhado do vereador Afonso Mangueira, o motorista e mais dois seguranças armados, sendo que um dos, é policial militar. O prefeito chegou a me ameaçar em dizer que eu era responsável pelo que foi ao ar dito pela a ouvinte”, conta. Ele afirma que no momento não houve agressão física. “Eles me coagiram,disseram que iriam me processar, ameaçaram fechar a rádio”.
Diante do fato, Valdir decidiu procurar o Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, TV e Publicidade do Estado da Bahia – SINTERP para tomar as medidas cabíveis. “Eu entrei em contato com o Sindicato e o mesmo me orientou a registrar o boletim de ocorrência na delegacia regional de Juazeiro”. Ele conta ainda que o fato foi registrado em Juazeiro por conta de que o delegado de Pilão Arcado teria se recusado de fazer a ocorrência. “Houve uma recusa em parte do delegado em fazer a ocorrência, mas ele me explicou os motivos. Por se tratar de imprensa e radialista o delegado me orientou a fazer uma petição por parte de um advogado. Senti uma omissão pelo fato de querer registrar o boletim”.
O radialista diz ainda que o caso não foi levado ao Ministério Público, porque a cidade encontra-se sem promotor e juiz. “É uma grande dificuldade no município em relação a esse assunto, Pilão Arcado está em situação alarmante e no momento não tem nenhum promotor”. Por outro lado, ele lamenta a situação administrativa no município e afirma que o programa foi retirado do ar sob pressão. “O sofrimento das pessoas é grande, a direção da rádio foi pressionada a tirar o programa fora do ar porque o prefeito não aceita que o povo se manifeste referente ao que está acontecendo. Ficamos no ar durante três dias, mas isso não me impede de continuar a minha tarefa mesmo porque trabalho como correspondente para outros órgãos de grande expressão do jornalismo na região. A tradição de violência para quem faz parte da imprensa é antiga, vou continuar o meu trabalho mesmo correndo o risco de morte”, alerta.
Por outro lado, o Comandante da CPRM, João Pedro afirmou que o policiamento foi reforçado no município. “Não temos conhecimento a fundo do que realmente está acontecendo, mas estamos nos antecipando e orientando o policiamento local a se posicionar de maneira ilesa que não venha a favorecer a, b ou c. Sabemos que estamos entrando no período eleitoral e isso é muito delicado, quero informar que não por esse fato, mas por questão de administração já substituímos o comandante e estamos com o tenente Adilson da Cruz coordenando a segurança da cidade. Com relação ao policial que está servindo de segurança ao prefeito, tomaremos as devidas providências para que isso não possa acontecer novamente”.
Até o momento, o município tem quatro pré-candidatos de oposição para a eleição de outubro 2012. Um dos partidos que disputa o pleito é o PDT, que em contato com a nossa reportagem se mostrou altamente preocupado com a situação: “O Partido Democrático Trabalhista, através do Dep. Roberto Carlos se mostra preocupado com o que vem acontecendo, e o que poderá acontecer de mais grave devido à incitação de violência orquestrada pelo gestor municipal. Diante do fato, o partido se solidariza com o povo daquele município que teve o direito violado de ouvir e de solicitar providências, através do meio de comunicações, com relação aos problemas que afligem as pessoas mais necessitadas. O partido tem candidato na disputa, e jamais poderemos deixá-lo correndo risco de morte diante dessa situação tão conturbada. Os que não sabem o significado da democracia, e que se espelha em gestos primitivos não pode ser representante do povo. No entanto, decidimos pedir providencias ao Governo do Estado através da Assembléia Legislativa e da Secretaria Estadual de Segurança para que o pior não venha a acontecer”.