Domingos Ailton lança livro na Fundação Casa de Jorge Amado sobre religiosidade e cultura afro brasileira no sertão de Jequié
Nesta quarta-feira, dia 9 de dezembro, às 17h, na Fundação Casa de Jorge, no Largo do Pelourinho, em Salvador, o escritor jequieense Domingos Ailton, membro da Academia de Letras de Jequié e professor da UESB, faz palestra sobre a religiosidade e cultura afro brasileira no sertão de Jequié e lança seu mais novo livro, Antônio Burokô.
Segundo Domingos Ailton a religiosidade e cultura afro-brasileira no sertão de Jequié apresentam aspectos singulares e influências regionais. “Os pais e mães de santos, respectivamente, são chamados pelo povo jequieense de curadores e curandeiras. Existe uma associação sincrética entre caboclos e orixás e a região pastoril do sertão de Jequié passou influenciar a presença marcante nos terreiros de Candomblé de entidades que são incorporadas no transe místico, a exemplo do boiadeiro”, relata. Na região de Jequié o berimbau não é produzido a partir da biriba como ocorre no Recôncavo Baiano. O arco musical é confeccionado com calumbi, espécie de árvore que também produz o cabo da vassoura artesanal de palha.
Antônio Burokô – Parte das informações sobre os aspectos peculiares da religiosidade e cultura afro-brasileira no sertão de Jequié está no romance Antônio Burokô, de autoria de Domingos Ailton. A mitologia popular afro-brasileira com o fascínio dos orixás, as festas e a resistência do povo de santo à perseguição contra a religiosidade e cultura de origem africana, os saberes e fazeres populares de tradição oral, expressões culturais, a exemplo do primeiro grupo de capoeira de Jequié, o Banda da Lua compõe o romance.
Na década de 1940 quando o delegado Anibal Cajaiba de Oliveira persegue em Jequié terreiros de Candomblé, afoxés, batucadas, grupos de capoeira e outras manifestações da religiosidade e da cultura afro-brasileira, o pai de santo Antônio Burokô, proveniente de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, chega à cidade e com sua força espiritual deixa confusa e faz até a polícia sambar; os capoeirista do Banda da Lua enfrentam a repressão policial com os golpes dinâmicos e criativos do gingado da capoeira. O contexto político da época, com as discussões e atuações de intelectuais jequieenses durante o período do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, também faz parte desta produção literária de Domingos Ailton, que é mestre em Memória Social e Documento pela UNIRIO.
Baseado em fatos reais, Antônio Burokô, faz um passeio pelo universo da religiosidade e da cultura popular baiana. Descreve de maneira etnográfica expressões da religiosidade e das manifestações cultuais da Bahia como o caruru para os santos gêmeos Cosme e Damião, a procissão marítima de Nosso Senhor dos Navegantes, a Lavagem do Bonfim, a Festa de Iemanjá, a Romaria de Bom Jesus da Lapa, a riqueza cultural do bairro Joaquim Romão e o Carnaval em Jequié, além de fazer referência aos guardiões da memória, chamados pelo autor de museus vivos do povo, que contam episódios da luta da população pela independência na Bahia.
O romancista revela que a perseguição aos terreiros de Candomblé tem como base o racismo contra os negros e a intolerância religiosa. A dupla pertença ou a prática do sincretismo religioso tão presente na Bahia onde pessoas frequentam o Candomblé e a Igreja Católica, aparece no romance como um acontecimento que está no inconsciente da memória coletiva.
O livro mostra ainda, misturando ficção com acontecimentos reais, episódios da história de Jequié como o primeiro protesto ecológico que ocorreu na cidade por conta da derrubada de uma gameleira e o toque das cornetas dos guardas municipais às 10 horas da noite, para que as tradicionais famílias se recolhessem e as prostitutas pudessem sair às ruas, o que serviu de inspiração para que o consagrado poeta Natur de Assis escrevesse um poema.
Antônio Burokô é uma obra que apresenta com lirismo e habilidade literária a força da resistência da religiosidade e cultura afro-brasileira. Uma história que revela mistério e encantamento, luta e criatividade do saber afro-brasileiro.