Alunos conduzem projeto comunitário em São Miguel das Matas

Adriane Primo

  • Sistema melhora o aproveitamento da água de mandioca nas casas de farinha - Foto: Gracielle Pereira / Divulgação

    Sistema melhora o aproveitamento da água de mandioca nas casas de farinha

Quatro jovens e um objetivo: beneficiar a comunidade em que vivem. Este foi o propósito que motivou os estudantes Robert Brito, 17, Karen Karolyne, 16, Jéssica Souza, 17 e Janaina Almeida, 17, a elaborarem o ProMani (Projeto Manipueira), que tem como base técnicas desenvolvidas pelo Sebrae sobre o aproveitamento sustentável da água da mandioca – cientificamente denominada manipueira. A originalidade, no entanto, é atribuída a um jogo de tabuleiro intitulado “Viajando na Manipueira”, especialmente desenvolvido para o público infantojuvenil da zona rural da região e que poderá ser usado como ferramenta didática.

Alunos do terceiro ano do Colégio Estadual Aldemiro Vilas Boas, no município de São Miguel das Matas, localizado no Recôncavo Sul da Bahia, os discentes fundamentaram-se na cultura local para propor à escola o tema que gostariam de abordar na Feira Anual de Ciências. “Queríamos criar algo que pudéssemos colocar em prática. E, como nossa região é caracterizada pela produção de mandioca, resolvemos fazer um projeto que beneficiasse a população. Depois de muitas pesquisas chegamos à água de mandioca, que é descartada pelos produtores das casas de farinha sem nenhum cuidado e causa danos ao meio ambiente e a saúde”, conta o estudante Robert.

Com população estimada em 11.963 mil habitantes, São Miguel das Matas ocupou, em 2007, o primeiro lugar entre os municípios baianos que mais produzem a hortaliça, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  De acordo com o secretário de agricultura do município, Helder Giovanny, devido a falta de mão de obra, o alto custo de produção e problemas relacionados a higienização das casas de farinha, atualmente o município perdeu 40%  da produtividade, porém mantém 70% da economia baseada na produção da raiz  e possui cerca de 280 casas de farinha ativas.

“Fiquei extremamente encantado com o interesse dos estudantes em construir algo pensando na comunidade. Isso só vem somar com o que estamos propondo junto com o Sebrae, que é capacitar os produtores das casas de farinha. A ajuda dos estudantes é essencial porque eles tem uma linguagem jovem e são filhos da terra. Isso facilita chegarmos ao nosso objetivo”, comenta o secretário.

O levantamento feito pelos jovens permitiu que abrangessem a  percepção da importância da mandioca para o município agrícola. A orientação do projeto coube a professora  Natália Oliveira, que fez questão de viabilizá-lo. “Essa foi uma iniciativa muito bacana e necessária para a comunidade. Eles merecem todo reconhecimento”, elogia.

Projeto

Com base na cartilha desenvolvida pelo Sebrae,  os alunos montaram o ProMani afim de levar aos produtores das casas de farinha informações de como o líquido extraído da raiz poderia ser reutilizado, inclusive para  geração de renda.

“Muitos dos produtores  não sabem o que fazer com a água liberada pela mandioca (que contém um ácido  tóxico) e, geralmente, fazem um poço para descartar o líquido. Mas, este poço fica exposto causando infertilidade do solo e morte de animais”, explica Robert. Segundo os estudantes, a partir do processamento correto da manipueira, produtos como inseticida, adubo, pesticida, vinagre e sabão líquido podem ser fabricados.

Com conhecimentos técnicos e culturais, os jovens expandiram o projeto tornando-o ainda mais educativo. Partimos do princípio de que as crianças podem levar  informações aos pais, se tiverem acesso  sobre  o tema em questão na escola, formularam   um jogo de cartas chamado “Viajando na Manipueira”, que consiste em perguntas e respostas que elucidam sobre o que é manipueira e como ela pode ser reutilizada.

O jogo foi tão bem desenvolvido, que  a secretaria de educação do município abraçou a ideia e vai inseri-lo como conteúdo pedagógico ainda este ano. “Achamos a ideia muito interessante e resolvemos adotá-la. Eles farão uma apresentação com a presença de representantes do corpo docente das 19 escolas municipais que temos”, afirma o secretário Jailson Grillo.

A proporção que chegou a iniciativa assustou um pouco os alunos, mas reafirmou um  interesse coletivo: ajudar os moradores de São Miguel das Matas.  “A intenção é melhorar a vida das famílias daqui”, diz Jéssica.

Fonte: A Tarde

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