Após repressão em maio, Recife tem ato ainda maior com homenagem ao homem que perdeu a visão

Desta vez, ouvidores da secretaria de Defesa Social e da PM estiveram presentes para garantir que não houvesse a violência policial observada na última manifestação contra Bolsonaro

Por Armando Holanda

Aos gritos de “Fora Bolsonaro”, “Fora Genocida”, “Queremos impeachment” e “Queremos Vacina”, manifestantes se reuniram, na manhã deste sábado (19), na praça do Derby, área central do Recife (PE), como parte da mobilização nacional #19J. Enquanto marchavam em direção à avenida Conde da Boa Vista, coros foram entoados. Além dos gritos contra Jair Bolsonaro, a população pedia o fim da militarização da polícia: “Não acabou, tem que acabar… eu quero o fim da polícia militar”. Se comparado à manifestação de 29 de maio, o ato deste sábado teve maior participação da população. Mesmo em meio às chuvas, o protesto resistiu.

Diferentemente do último ato contra o governo, de maio, a Polícia Militar de Pernambuco, desta vez, não agiu de forma truculenta. Fontes apontam que a mansidão da corporação se deu pela proporção que os últimos atos tomaram e que seria uma maneira do governador Paulo Câmara (PSB-PE) se livrar de outra crise na Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), que rendeu o afastamento de mais de 10 PMs e do comandante da operação. Na manifestação de 29 de maio, a polícia atacou manifestantes com bombas, spray de pimenta e balas de borracha. Os disparos atingiram os olhos de dois homens, que perderam a visão.

Neste sábado, manifestantes homenagearam os cidadãos que foram atingidos pela PM, usando papéis sobre os olhos simulando um sangramento.

Políticos da esquerda estiveram presentes no ato, entre eles os vereadores recifenses Ivan Moraes (PSOL-PE), Dani Portela (PSOL-PE) e o deputado estadual João Paulo (PCdoB), que já negocia sua volta para o PT em Pernambuco.

“A participação e ação nesse ato é um recado que queremos dar ao governo genocida. Um recado de insatisfação”, disse Ivan Moraes.

Grávida, a deputada federal Marília Arraes (PT) também esteve presente no ato. Para ela, a manifestação representa a força popular na luta contra os retrocessos causados pela gestão Bolsonaro. “Essa gestão está sendo uma vitrine negativa para o Brasil em relação ao restante do mundo. É preciso unificar a luta contra Bolsonaro. O ato de hoje foi muito importante e cada vez mais vamos reunir as pessoas pedindo o Fora Bolsonaro”, afirmou a petista.

 

Foto: Arnaldo Sete

Para a professora Luciana Martins, “o ato representa toda a indignação da população brasileira contra esse sistema de genocídio. Estamos vivendo uma verdadeira ode à morte e não podemos aceitar isso como normal. Mais de 2 mil pessoas são mortas por dia e tem gente lidando como ‘poucos números’. Nós não podemos normalizar mortes que poderiam ter sido evitadas se o presidente tivesse comprado a vacina. Ele é o culpado”.

Uma recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), expedida na sexta (11), solicitou que os policiais militares evitassem o emprego inadequado de armas letais e não letais durante o ato. A advertência só fora dada devido aos atos truculentos do Batalhão de Choque da PMPE no último ato, que resultou na cegueira de dois transeuntes, que sequer participavam do protesto, causados por tiros de bala de borracha vindos da corporação. A recomendação também pediu o uso adequado dos cadarços de identificação em locais visíveis do uniforme – coisa que fora completamente desobedecida e deliberadamente escondida durante o último ato.

Desta vez, ouvidores da secretaria de Defesa Social e da PM estiveram presentes para garantir que não houvesse a violência policial observada na última manifestação contra Bolsonaro.

Fórum, em parceria com a TV Democracia, comandada pelo jornalista Fábio Pannunzio, transmite ao vivo os atos contra Jair Bolsonaro que acontecem em mais de 400 cidades do Brasil e do mundo.

 

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