Arlete Salles: ‘Falhei com os filhos porque trabalhei muito a vida toda’

Foto: Victor Pollak/Rede Globo/Divulgação
Paulo Víctor Mafrans

Mulher de fibra, Naná desafiou a licença poética do bem e do mal para derrapar em suas atitudes em defesa dos filhos em “Segundo sol”. Por amor à família, mentiu e omitiu. Mas foi salva pelo afeto aos seus e a quem mais chegou. Para a pernambucana Arlete Salles, de 76 anos, a sua baiana da ficção chegou para coroar o pódio de suas personagens mais queridas — acompanhada por Carmosinha (“Tieta”, 1989) e Copélia (“Toma lá, dá cá”, 2007) — nos 60 anos de carreira.

— Não tenho a menor dúvida de que eu deveria ser atriz, mas acho que não conduzi bem minha trajetória artística porque empreendi pouco, diferentemente de algumas amigas. Não é da minha personalidade, sabe? Aos trancos e barrancos, cheguei aqui. Mas, de qualquer forma, com sorte e muito trabalho, venci e fiz uma bonita carreira — pondera ela.

No próximo dia 9, sua atual heroína sai do ar, deixando a atriz com uma certa melancolia.

— Não vivo de tristeza, mas me dói deixar a personagem, apesar de estar feliz com tudo que aconteceu. Naná começou tímida e vai terminar intensa, dona de si. Apesar dos erros, moralmente ela foi corajosa, de uma beleza interior imensa. Colocava o bem-estar da família em primeiro lugar — avalia Arlete, pouco depois de ter gravado a cena em que a matriarca reencontra o filho mais velho, Remy (Vladimir Bichta), dado como morto: — Não sei se a cena ficou boa, mas fiz como senti.

Naná reunida em tornda Família Falcão
Naná reunida em tornda Família Falcão Foto: Mauricio Fidalgo/rede Globo/Divulgação

Estimulada pelas relações familiares do folhetim, a veterana reavalia seus laços pessoais e diz sentir que falhou como mãe, referindo-se à criação dos filhos Alexandre Barbalho, de 58 anos, e Gilberto Salles, de 47, ambos do casamento (1958-1970) com o ator Lúcio Mauro, de 91:

— Falhei porque trabalhei muito a vida toda. Minha mãe (Severina) viveu mais essa função com eles do que eu. Que bom que os meninos se tornaram pessoas de caráter. Temos uma relação ótima, saudável.

Natural de Paudalho, Zona da Mata de Pernambuco, a atriz teve em Severina o suporte que precisou para poder se dedicar à profissão. A parceria só se encerrou em 2013, quando a mãe morreu, aos 93 anos.

— Sou mãe e fui filha até pouco tempo atrás. Esse convívio intenso cria ruído, claro, mas vivemos em paz, uma cuidando da outra. A vida toda eu achei que só seria livre quando morasse longe de mamãe. Quando ela morreu, entendi que a minha liberdade era ao lado dela. Sinto muito a sua falta — lamenta Arlete, que hoje mora com o caçula.

O coração está em paz. Solteira, ela diz que não sente falta de um namorado, mas destaca que não há impedimento algum para que isso mude. Enquanto isso, a atriz afirma que “deixa a vida a levar”, citando a canção de Zeca Pagodinho.

— Sou feliz porque trabalho no que gosto, me mantenho ativa e saudável. A vida é desafiadora e exige coragem. E isso não me falta.

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