Bispo Pedro Casaldáliga, ícone da luta pelos direitos humanos no Brasil, é internado em estado gravíssimo

Religioso catalão de 92 anos está hospitalizado por problemas respiratórios em hospital de São Félix do Araguaia (MT). Enfrentou a ditadura militar em nome dos indígenas e dos camponeses sem-terra

Pedro Casaldáliga, bispo-emérito da diocese de São Félix do Araguaia (MT).
Pedro Casaldáliga, bispo-emérito da diocese de São Félix do Araguaia (MT).JOAN GUERRERO

“Informamos a todas e a todos os amigos e amigas de Pedro Casaldáliga que o bispo se encontra internado no hospital de São Félix do Araguaia devido a problemas respiratórios. Casaldáliga está muito debilitado pelo Parkinson que sofre há anos e sua idade avançada. O teste para a covid-19 deu negativo, mas sua situação de saúde é muito grave.” Com esta mensagem publicada em seu site, as entidades ANSA e Araguaia com o Bispo Casaldáliga informaram à população sobre o estado do religioso catalão de 92 anos, que desde 1968 trabalha no Brasil em prol dos direitos dos indígenas e dos camponeses sem-terra, situação que o levou a inúmeros conflitos com latifundiários e multinacionais. “Pedro está sempre acompanhado e bem cuidado”, acrescenta a notícia.

As aparições públicas do bispo emérito de São Félix do Araguaia vinham sendo cada vez mais raras devido ao agravamento do Parkinson e as dificuldades cada vez maiores de fala e de coordenação motora. Filho de camponeses da localidade catalã de Balsareny (seu nome em catalão é Pere Casaldàliga), claretiano e ordenado sacerdote na Espanha, chegou ao Brasil como missionário em 1968 fugindo do franquismo. Em 1971 foi nomeado primeiro bispo da diocese e converteu sua casa, pequena, rural e pobre, na sede.

Naquele ano ele deu à sua primeira carta pastoral o título de “Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”. O tom marcaria sua atuação nas décadas seguintes na região. Tornou-se referência internacional na luta pelos direitos humanos na Amazônia e passou a ser conhecido como o bispo do povo. Já seus inimigos preferiram chamá-lo de bispo vermelho, por sua ligação com a esquerda política.

Casaldáliga sempre defendeu uma igreja com forte atuação social, tornando-se um dos ícones da Teologia da Libertação. Com seu estilo espartano, entrou em choque com a ditadura militar e também com o setor mais conservador da Igreja Católica. Por ter se tornado um dos principais religiosos de oposição ao regime militar, foi perseguido e ameaçado de morte em várias ocasiões. Nunca mais retornou à sua terra natal por temer sair do Brasil e ser barrado pelos militares na volta. Aqui ele também foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra da Igreja Católica (CPT).

A construção de hortas, a elaboração de sucos e a melhora dos sistemas de saúde das pessoas mais vulneráveis são algumas das linhas de ação das associações que também difundem as causas e a mensagem de Casaldáliga, reunida em dezenas de publicações e obras audiovisuais. “Pedro Casaldáliga completou 92 anos em fevereiro passado. Depois de mais de 50 anos vivendo na Amazônia brasileira, nunca mais voltou à sua Catalunha natal e ainda vive em São Félix do Araguaia. Agora, entretanto, ‘seu’ povo cuida dele”, diz seu site.

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