Continuam os erros na questão dos caminhoneiros

Para evitar nova greve, Fux restabelece no STF multa sobre a não aplicação da tabela de fretes

O GLOBO – Editorial

A ameaça de outra greve de caminhoneiros, como a de maio, comprova que a suposta solução negociada à época não tinha mesmo vida longa. Pode-se entender que, para conter os danos que a paralisação do transporte de carga pelas estradas causaria num país muito dependente do caminhão, era crucial encontrar uma saída urgente.

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Mas não se intervém em um mercado com milhares de agentes econômicos — caminhoneiros autônomos, donos de frotas; clientela diversificada, da agroindústria aos serviços — sem se criarem outros problemas.

E insiste-se em erros na tentativa de se eliminarem equívocos anteriores: o ministro do Supremo Luiz Fux, responsável por tentar no Judiciário a quase impossível conciliação entre tantos interesses conflitantes, acaba de atender a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e revogar decisão sua que suspendia a cobrança de multa sobre quem não cumprir a tabela de fretes. O fim das multas serviu de centelha para o início de nova mobilização no setor, com aglomeração de caminhões em pelo menos um trecho da Dutra, em Barra Mansa (RJ).

A própria tabela já foi um erro, cometido em maio. O que não significa que não haja margem para negociação. Um ponto central, o preço do diesel, é assunto bem encaminhado. Era e é correta a política de preços reais que passou a ser seguida pela Petrobras na gestão de Pedro Parente. Mas a oscilação excessiva do diesel, produto essencial no transporte de carga, inviabiliza o caminhoneiro, principalmente o autônomo. A imprevisibilidade do seu custo de operação mata o negócio, por ser impossível calcular sem riscos um frete que lhe garanta algum lucro.

Na pressa de um governo fraco, em fim de mandato e acossado, partiu-se para um congelamento subsidiado pelo Tesouro. Na mesma leva, veio outro equívoco no mesmo sentido, a tabela de fretes. Recuou-se aos tempos cartoriais na economia da ditadura militar.

Para garantir uma redução de R$ 0,46 no litro do diesel, criou-se um subsídio, que vencerá no dia 31, depois de ter custado, segundo estimativas, aproximadamente R$ 9 bilhões. Não há margem fiscal para renová-lo.

Há, porém, uma correta proposta de que o imposto Cide, sobre combustíveis, flutue como colchão, para evitar que os preços internacionais impactem de forma direta os internos. A ideia já deveria ter sido adotada. Quanto à tabela de fretes, esta fracassará com vem fracassando.

Não se deve intervir mais na questão, deixando o mercado se acomodar a uma nova realidade. O próprio preço do diesel, na mesma tendência da cotação do petróleo, caiu nos postos. É preciso parar com este ativismo intervencionista, que, ao tentar resolver um problema, cria dois ou três outros que não eram previstos.

Impossível pensar que a superoferta de caminhões, criada por financiamentos do BNDES nos governos Lula/Dilma, deixará de deprimir os fretes enquanto a economia não se recuperar completamente. Recuperação que será prejudicada se vier outra greve.

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