Dilma ensaia a volta

Bernardo Mello Franco – O Globo

Depois de confirmar o impeachment, o Senado poupou Dilma Rousseff de perder os direitos políticos. “Não podemos ser maus, desumanos”, defendeu Renan Calheiros. Parecia um mero consolo para aliviar as dores da queda. A imagem da petista estava tão desgastada que ninguém apostaria numa nova candidatura.

Menos de dois anos depois, Dilma decidiu enfrentar as urnas. Concorrerá ao Senado pelo PT de Minas Gerais. Ela se lançou na noite de quinta-feira, em Belo Horizonte. Há duas vagas em disputa, e pesquisas que circulam no Estado a apontam como favorita.

A candidatura da ex-presidente surgiu como um embaraço para seu próprio partido. Irritado, o MDB abandonou a base de Fernando Pimentel e abriu um processo de impeachment contra o petista. Agora o cálculo mudou, e a presença dela passou a ser vista como um reforço para o governador.

Além de enfrentar problemas com a Justiça, Pimentel pilota uma administração em colapso financeiro. O Estado voltou a atrasar o pagamento dos servidores. A folha de pagamentos virou uma bagunça. Um estudo do Tribunal de Contas identificou 96 mil funcionários sob suspeita de acúmulo ilegal de funções.

O descalabro encorajou o PSDB a relançar Antonio Anastasia, que deixou o governo em 2014 com a reputação de bom gestor.

A entrada de Dilma na chapa deve nacionalizar a eleição mineira. Isso tende a atrapalhar o tucano, que foi relator do impeachment no Senado e será cobrado pelo impulso decisivo a Michel Temer.

A impopularidade do presidente se tornou o maior ativo eleitoral da antecessora. De acordo com a nova pesquisa CNI-Ibope, 63% dos brasileiros consideram o governo Temer pior que o governo Dilma. Outros 26% não veem diferença, e apenas 9% dizem que o país melhorou.

A eleição mineira poderia ficar ainda mais interessante. Como o mandato de Aécio Neves está no fim, a corrida ao Senado ameaçava reeditar o duelo que dividiu o país em 2014. Apanhado pela Lava-Jato, o tucano achou melhor não disputar o tira-teima. Sua situação é tão melancólica que ele ainda calcula se teria votos para se eleger deputado.

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