Fundada a Primeira Internacional Socialista

Nos primeiros anos da década de 1860, a conjuntura internacional fez com que lideranças sindicais e ativistas socialistas começassem a pensar em fundar uma organização

O dia 28 de setembro de 1864 marca a fundação em Londres da Associação Internacional de Trabalhadores, historicamente conhecida como a Primeira Internacional. Ela esteve conformada com os princípios defendidos por Marx. Pregava a rápida abolição dos exércitos nacionais, o direito à greve e a coletivização dos bens de produção. Suas atividades foram interrompidas pela guerra de 1870, porém retoma os trabalhos em 1889 no Congresso de Paris, já sob o nome de Segunda Internacional. E aí se prepara para sua maior desilusão. Em 1914, ela se move sob os golpes e a propaganda do nacionalismo. Os proletários adotam as posições de seus países de nascimento em nome da “união sagrada”. O proletariado sem fronteira do lema “Proletários de todos os países, uni-vos” era ainda uma distante utopia.

Nos primeiros anos da década de 1860, a conjuntura internacional fez com que lideranças sindicais e ativistas socialistas começassem a pensar em fundar uma organização que reunisse os sentimentos universais a favor da luta dos trabalhadores e das nações oprimidas.

Num dia de setembro de 1864, um jovem trabalhador francês  Victor Le Lubez, bateu à porta de Karl Marx em Londres, onde vivia. Solicitou-lhe que lhe indicasse um nome de alguém da classe trabalhadora que falasse alemão para uma reunião organizada por sindicalistas ingleses e franceses. Marx prontamente indicou Johann Eccarius, um alfaiate bastante sério e que se saiu a contento.

A associação internacional dos trabalhadores começando a tomar corpo, Marx, embora abalado com a morte em romântico duelo de Ferdinand Lassalle, o líder dos socialistas alemães e fundador da primeira organização de trabalhadores na Alemanha (a Allgemeinen Deutschen Arbeitervereins), resolveu estar presente no Matins’s Hall em Londres, onde a associação foi anunciada.

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Retrato do primeiro congresso, em 1864

Uma conjugação virtuosa de acontecimentos internacionais sacudiu a letargia e as discussões intermináveis em que o mundo revolucionário e sindical se encontrava. Em 1861, o condottiero italiano Giuseppe Garibaldi no comando de suas tropas envergando camisas vermelhas, ocupara a Sicilia e a integrara, juntamente com Nápoles, ao Reino da Itália ainda em formação. O mundo espantou-se com a ousadia daquela ação levada a cabo por tão poucos. A unificação da península foi a primeira derrota depois de muitos anos das forças ultraconservadoras da Europa de então: a Igreja Católica e o Império Austro-húngaro. A isso se somou a notícia do início da Guerra de Secessão nos Estados Unidos e a abolição da escravidão, a rebelião polonesa de 1863 conta o domínio czarista. Em todos esses acontecimentos, houve uma notável onda de solidariedade internacional por aqueles que lutavam a favor da causa da liberdade.

Impactados com o que ocorria no mundo, vários sindicalistas ingleses como George Odger, Cremer e Wheeler, trataram então de dar procedimento a fundação de uma instituição que captasse e canalizasse o sentimento de fraternidade que então brotava: a International Working Men´s Association. Marx, testemunha do evento, confessou a Engels em carta de 4 de novembro de 1864, que “permaneceu o tempo inteiro como uma figura muda”, o que não deveria ser fácil para um homem tão loquaz. Após os discursos elegeu-se um Conselho Geral. Com trabalhadores de várias procedências. Marx, indicado como secretário, era o mais célebre.

A Primeira Internacional Socialista era uma confederação de tendências ideológicas as mais diversas. Além dos sindicalistas puros que não queriam envolver-se na política, haviam os cooperativistas prudhonianos, os republicanos, os democratas radicais seguidores de Mazzini, antigos cartistas ingleses, blanquistas franceses e alemães, seguidores de Lassalle. Solicitaram a Marx que redigisse uma declaração de princípios e os estatutos provisórios.

Quanto ao programa de lutas, ele implicava numa série de reivindicações e propostas, que foram sendo acrescentadas ao longo da curta existência da Primeira Internacional, entre eles: a permanente solidariedade a todos os trabalhadores e as suas lutas; a promoção do trabalho cooperativo; redução da jornada das mulheres e das crianças; difusão da lei da jornada de 10 horas pelo restante das nações; estímulo à organização sindical; o estabelecimento de um Polônia livre e democrática, bem como defesa da autodeterminação das nações, opondo-se firmemente “às imensas usurpações realizadas sem obstáculo por essa potência bárbara, cuja cabeça está em São Petersburgo (a Rússia czarista); exigir que “as sensíveis leis da moral e da justiça, que devem presidir as relações entre indivíduos, sejam as leis supremas das relações entre as nações”.

O Conselho Geral da Internacional Socialista foi formado por George Odger (Presidente; George Wheeler (tesoureiro); Karl Marx (secretário pela Alemanha); G.Fontana (pela Itália); J. Holtorp (pela Polônia); Herman Jung (pela Suíça); P. Lebez (pela França). Desnecessário lembrar que foi Karl Marx quem se tornou a alma da organização, trazendo para perto de si gente da sua confiança e, em geral, intelectualmente qualificada para assumir a responsabilidade da divulgação e da enorme correspondência. Para as classes privilegiadas, para os grandes proprietários, os banqueiros, o grande empresariado e mesmo para as classes médias daquela época, o demônio passou a ser mais visível, passou a ter um só nome: a Internacional Socialista, dirigida pelo Doutor Vermelho, Karl Mar

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