Há três anos, homem tenta descobrir para onde foi levado o corpo da mãe

Foto: Thiago Freitas / Extra
Carolina Heringer

O dia de hoje, para Paulo Moreira, de 65 anos, perdeu o sentido. Há três anos, ele tenta descobrir para onde foi levado o corpo de sua mãe, que fora enterrada no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, na Zona Norte. Sem a informação, ele nem sequer pode visitar o túmulo e prestar homenagens no Dia de Finados à sua genitora.

A saga do técnico em eletrônica começou no fim de 2013. Sua mãe, Adair Pereira Moreira, morreu em 27 de setembro, aos 87 anos. Dois meses depois, Paulo resolveu visitar a cova 5159, onde ela fora enterrada. Chegando lá, a surpresa: no local, a lápide indicava que o corpo de outra pessoa estava ali. O homem morreu na mesma data que Adair.

Paulo procurou a administração do cemitério buscando esclarecimentos, mas não conseguiu saber onde estava o corpo da mãe. No início de 2014, ele foi à Defensoria Pública estadual. Foram, então, encaminhados dois ofícios à Santa Casa da Misericórdia, que administrava o cemitério, para buscar a informação. A concessionária não respondeu.

No início de 2015, a gestão do local passou para a concessionária Reviver, e a defensoria encaminhou dois novos ofícios. Em janeiro deste ano, veio a resposta: o corpo de Adair estava na cova 4907. Paulo foi ao cemitério e, lá, teve nova decepção: havia uma lápide informando que outro homem, morto no mesmo dia de sua mãe, estava ali.

Filho mostra foto de Adair, que morreu em 2013: corpo já não está mais onde ela foi enterrada
Filho mostra foto de Adair, que morreu em 2013: corpo já não está mais onde ela foi enterrada Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

Com essa informação, em abril e junho, a defensoria pediu que a Reviver comprovasse que os restos mortais que estavam na cova 4907 era de Adair, mas as solicitações nunca foram respondidas. Assim, em 12 de setembro, o órgão entrou com uma ação para buscar que Paulo descubra onde está sua mãe. A ação está parada, pois os juízes da Vara de Fazenda Pública e do Juizado Especial de Fazenda Pública divergem sobre de quem seria a competência para esse caso.

— Sinto-me frustrado. Até agora não consegui saber onde minha mãe está. Isso é muito triste e desagradável — lamenta Paulo.

Danos morais de R$ 50 mil

Na ação, constam como réus a Santa Casa da Misericórdia, a Reviver e a Prefeitura do Rio. No processo, foi pedida ainda indenização de R$ 50 mil por danos morais e também que sejam mantidos os restos mortais dos corpos das pessoas sepultadas no mesmo dia em que Adir, evitando que sejam levados para ossário público.

No último sábado, ao visitar o Cemitério da Cacuia, Paulo constatou que a lápide da cova 4907 havia sido retirada, e a terra aparentava estar remexida, como se outra pessoa tivesse sido enterrada.

Sem túmulo Paulo, no cemitério da Cacuia, onde sua mãe foi enterrada
Sem túmulo Paulo, no cemitério da Cacuia, onde sua mãe foi enterrada Foto: Thiago Freitas / Fotos de Thiago Freitas

A Reviver informou que não pode responder pelos fatos ocorridos em 2013, pois ainda não era responsável pela administração do cemitério. A concessionária disse ainda que está seguindo o pedido da defensoria para que não sejam retirados os restos mortais das covas 4907 e 5159.

A Prefeitura do Rio informou que a concessionária Reviver foi acionada, exigindo que esclareça a situação e preste todo o assessoramento à família envolvida. A Santa Casa disse que só poderá se posicionar amanhã.

‘Ele tem o direito de saber onde está a mãe’

— Não sabemos se foi uma troca de placas ou se ocorreu algo com os restos mortais de Adair. Podem ter sido enterradas duas pessoas na mesma cova, por exemplo, ou terem sumido os restos mortais. Há três anos, Paulo está nessa situação. O filho tem o baque de perder a mãe e não consegue saber onde está o corpo. Ele tem o direito de saber onde está a mãe e poder visitar seu túmulo — diz a defensora pública Beatriz Carvalho de Araújo Cunha.

 

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