Michel comprou briga errada na hora errada

Helena Chagas – Blog Os Divergentes

O presidente Michel Temer comprou a briga errada na hora errada ao acionar a área jurídica do Planalto para impedir a Folha de S.Paulo – extensivamente ao Globo – de publicar notícias sobre a chantagem sofrida pela primeira dama Marcela Temer por parte de um hacker que clonou seu celular.

Foi um tiro no pé. Primeiro, porque nenhum presidente da República fez isso desde a redemocratização do país – e até ontem ninguém imaginava que essa triste marca histórica fosse ficar com o cordial e conciliador Temer.

Em segundo lugar, porque não impediu a divulgação. A notificação demorou a chegar, e a matéria saiu, atraindo a atenção do resto da mídia mais pela tentativa de censura do que por seu conteúdo, uma narrativa na qual a primeira dama é, claramente, uma vítima.

Em vez desse reconhecimento, porém, o noticiário traz reações contra a censura e deixa no ar, para os maledicentes que sempre aparecem nessas horas, a pergunta: o que mais conterão os arquivos do celular de Marcela Temer? Ninguém tem nada com isso, mas sabemos o que acontece quando se tenta esconder alguma coisa nesse país.

Para piorar a situação, o presidente recorreu à AGU e ao secretário jurídico da Casa Civil, Gustavo Vale, para a ação que censurou o jornal. Vale, como se sabe, foi advogado de Eduardo Cunha e acionou diversos jornalistas.

Foi péssimo também para Temer que o episódio coincidisse com a crise em torno da suposta blindagem governista contra a Lava Jato e com o anúncio de que só afastará ministros do governo se forem denunciados ou virarem réus. Na prática, isso quer dizer que a menção na delação da Odebrecht e em outras não vai mexer na equipe. E que, dado o andor da PGR e do STF, é grande a chance de todos ficarem no governo até o fim, enrolados e não enrolados.

Ao fim e ao cabo, é preciso lembrar que, muitas vezes, a imprensa erra. Tem enormes dificuldades de reconhecer seus próprios erros e também comete injustiças. A Justiça está aí para socorrer, reparar e indenizar os que se sentirem ofendidos e injustiçados.  Mas nada justifica a mão pesada da censura prévia.

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