O golpe de Estado de Bolsonaro e Daniel Silveira detalhado à Veja pelo senador Marcos do Val

Senador, que anunciou que vai deixar a política e voltar a morar nos EUA, Marcos do Val diz ter ouvido plano da boca de Jair Bolsonaro em reunião no Alvorada agendada por Daniel Silveira, que foi preso. Moraes era o alvo.

Marcos do Val e Jair Bolsonaro.Créditos: Youtube

Acusado de “traidor” por ex-aliados da ultradireita que o teria feito anunciar que deixará a política e voltará a morar nos EUA, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) caiu atirando e “soltou uma bomba” que pode implodir o bolsonarismo fascista e pode levar Jair Bolsonaro (PL) definitivamente para a prisão.

Após anúncio da “bomba” pelo senador em live durante a madrugada desta quinta-feira (2), em que trocou farpas com membros do Movimento Brasil Livre (MBL), mais especificamente Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, e Renan Santos, a revista antecipou a divulgação da reportagem em que Do Val conta detalhes do plano de Bolsonaro para desencadear um golpe de Estado no Brasil.

O senador afirma que participou de uma reunião no Palácio da Alvorada no dia 9 de dezembro em que Bolsonaro detalhou o plano para “atirar o país numa confusão institucional sem precedentes desde a redemocratização”.

Além dele, estava presente o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi preso na manhã desta quinta-feira (2) após perder o foro privilegiado.

Do Val conta que o plano de Bolsonaro era que alguém de confiança se aproximasse do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e arrancasse dele alguma declaração comprometedora.

A conversa seria gravada e o áudio divulgado como estopim para uma convulsão social no país.

Mensagens a Moraes

Três dias depois, o próprio Do Val teria mandado uma mensagem a Moraes pedindo uma conversa com o ministro para “falar pessoalmente com o magistrado, diante da gravidade do que havia tomado conhecimento”. A Veja diz ter tido acesso à mensagem.

O dia, 12 de dezembro, foi marcado pela diplomação de Lula e, na sequência, pelo primeiro ato terrorista dos bolsonaristas, que tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília.

Para convencer Moraes, o senador teria dito que “precisava falar como foi o encontro com o PR e o DS”, em relação ao Presidente da República e a Daniel Silveira.

À Veja, Do Val disse que já havia alertado Moraes – “preocupado em se envolver em algo que pudesse prejudicá-lo” – dois dias antes da reunião no Alvorada, quando foi procurado por Silveira, que ligou para Bolsonaro e passou o telefone para ele.

A reunião com Bolsonaro

O senador do Podemos diz que a reunião com Bolsonaro foi marcada para acontecer por volta das 17h30 do dia 9 e que recebeu orientações de Silveira sobre como entrar de forma discreta no Alvorada.

“Vou te mandar a minha localização, mas tu não entra não, no Alvorada. E nem chega perto da entrada. Tu não vai aparecer. Tu vai parar o carro no estacionamento que eu vou te mandar a localização. Eu vou estar ali. O carro vai vir buscar a gente”, teria dito Silveira em mensagem de áudio.

Do Val e Silveira teriam sido levados ao Alvorada por seguranças de Bolsonaro e iniciaram a reunião que durou cerca de 40 minutos.

Bolsonaro estava de bermuda, camisa de manga curta e chinelo e um dos assuntos abordados foi a mobilização de apoiadores nos acampamentos em frente aos quarteis. Foi quando Silveira teria pedido ao então presidente que apresentasse a ideia que “salvaria o Brasil”.

A ideia era armar o plano contra Moraes para que o ministro fosse preso e a posse de Lula e as eleições anuladas. “Você será um herói nacional”, teria dito Silveira.

GSI

Na reunião, Bolsonaro teria dito que já havia acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno, a participação da Agência Brasileira de Informação (Abin) “que daria suporte técnico à operação, fornecendo os equipamentos de espionagem necessários”.

Além de Bolsonaro, Do Val e Silveira, outras duas pessoas teria conhecimento do plano.

O senador teria sido escalado pelo ex-presidente para se aproximar de Moraes “porque conhecia o ministro há mais de uma década”. Do Val teria pedido tempo para pensar e foi cobrado no dia seguinte da resposta por Silveira.

O senador não respondeu e foi cobrado novamente. “Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação”, disse Silveira, que cobrou uma resposta pela terceira vez.

Encontro com Moraes

Marcos do Val diz que teria informado Silveira que iria “declinar da missão” no dia 14 de dezembro, após relatar a Moraes o plano de Bolsonaro.

“Não acredito”, teria dito o ministro em tom de espanto ao receber o alerta inda de toga, no intervalo do julgamento da ação sobre o orçamento secreto.

Como resposta da negativa, Do Val teria recebido uma mensagem breve de Silveira: “Entendo, obrigado”.

No dia seguinte, Moraes multou Daniel Silveira em R$ 2,6 milhões por desrespeito às medidas cautelares na prisão domiciliar, entre elas retirar a tornozeleira eletrônica e não manter distância de outros investigados.

Procurados pelo Veja, Silveira disse que está impedido pela Justiça de falar com jornalistas. Moraes não comentou o caso e Bolsonaro não foi encontrado pela reportagem.

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