Plano de saúde mais longe do pernambucano com 65 mil beneficiários a menos em 12 meses

Diógenes Freire

Mais de 65 mil beneficiários deixaram os planos de saúde médico-hospitalares em Pernambuco durante os últimos 12 meses. O saldo corresponde a uma retração significativa no mercado de saúde suplementar: queda de 4,5%, segundo informações do boletim “Saúde Suplementar em Números” do Instituto de Estudos de Saúde (IESS). Somente no Recife, o recuo foi de 12,4 mil vínculos, na comparação entre setembro de 2015 e setembro de 2014. Na Capital, essa queda representa uma redução de 1,9%.

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A desaceleração é atribuída ao momento econômico do País, principalmente à retração do mercado de trabalho e ao rendimento real dos brasileiros. “Nossa expectativa é que o mercado de planos de saúde deve fechar 2015 registrando uma queda em relação ao total de 2014, mas certamente em proporção menor do que as quedas do PIB e do nível de emprego. Não é possível afirmar, porém, se essa retração irá se manter em 2016”, observou o superintendente executivo do IESS, Luiz Augusto Carneiro.

Carneiro enfatiza que, de acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), encomendada pelo IESS, o brasileiro coloca o plano de saúde como a terceira prioridade, atrás apenas da casa própria e da educação. “Sabemos que os beneficiários tentam evitar ao máximo abrir mão dos planos. É importante notar que, mesmo na crise econômica, a queda do número de beneficiários é proporcionalmente menor do que a queda do PIB e do nível de emprego”, defende.

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em setembro de 2015, o mercado brasileiro de planos de saúde médico-hospitalares registrou um total de 50,26 milhões de beneficiários, o que representa uma queda de 0,3% em relação ao mesmo mês de 2014, provocada pela saída de 164,4 mil beneficiários.

O corretor de plano de saúde, Éric Amaral, atua no mercado pernambucano há mais de 20 anos e acredita que essa baixa sofrida pelos planos vai contribuir para o superlotamento do sistema público de saúde. “O Estado não foi afetado apenas pela crise. Tivemos a quebra de quatro operadas (Real Saúde, América Saúde, Unimed Guararapes e Ideal Saúde) e isso fez com que os clientes migrassem para outras operadas que não estavam preparadas pare receber a demanda. Esse movimento acabou provocando uma insatisfação que, aliada à crise, resultou na evasão que vemos hoje”, explica.

A consultora de vendas Izabelly Cristina da Silva era cliente do plano de saúde Amil e mesmo depois de ficar desempregada, no início ano, tentou manter o pagamento em dia. Entretanto, depois que o valor foi reajustado, a parcela passou a comprometer muito do seu orçamento. “Eu trabalhava no caixa de uma empresa que faliu no mês de abril, mas como nessa época o valor do plano ainda era de R$ 240, consegui mantê-lo até o mês de junho, quando foi reajustado para R$ 300. Esse valor era quase metade do meu seguro-desemprego. Foi quando decidi cancelar, mas a cobrança ainda continua vindo”, contou.

Apesar de ter solicitado o cancelamento desde o mês de junho, a operadora não encerrou a cobrança que já acumula juros e acabou agravando a situação de Izabelly. Hoje, ela está empregada, mas impossibilitada de aderir a outro plano por conta dessa pendência. “É importante ter um plano de saúde e assim que resolver esse problema com a Amil, vou procurar outro que caiba no meu orçamento”.

O plano de saúde Amil possui cerca de 250 mil clientes em Pernambuco, sendo 33% de planos individuais e 67%, planos empresariais. Por e-mail, a empresa informou que o número de beneficiários de planos individuais continua estável e que no caso dos planos coletivos tem acompanhado o cenário do setor de saúde.

Hora de se reinventar

Para quem não abre mão de ter um plano de saúde, uma das alternativas é pesquisar e comparar o custo benefício de cada opção disponível. A crise econômica força as empresas a se reinventarem para se manter no mercado e isso pode ser a porta de entrada para boas oportunidades aos usuários que se preocupam com o preço e com a qualidade do serviço oferecido.

A diretora de comunicação do Hapvida Saúde, Simone Varella, reconhece o momento como uma oportunidade para tornar os serviços mais eficientes e atender melhor o cliente. “Essa é a primeira vez que estou vendo o mercado retroagir, mas o que também tem acontecido muito é a troca de planos”.

A servidora pública federal, Verônica Cristina Gomes, conta que por mais de dez anos manteve o plano de saúde da Unimed Recife e que estava conseguindo arcar com os reajustes até que a parcela passou a custar R$ 370. “Tenho direito ao plano da Geap, que tem um bom atendimento, é bem mais barato, vem descontado no contracheque e me permite incluir dois beneficiários. Ainda assim, resolvi manter os dois planos por alguns meses, mas o valor estava pesando muito e quando a Unimed aumentou o valor neste ano, decidi ficar apenas com o Geap, pois mesmo com o reajuste, ficou em R$ 272”, relatou.

Procurada para comentar sobre o atual momento do mercado, a Unimed Recife informou que ainda não recebeu nenhuma orientação da sede para comentar sobre o assunto. A Bradesco Seguros informou que é representada pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e que o posicionamento oficial da federação responde pelas associadas.

A FenaSaúde informou que o cenário é preocupante, mas que prefere não fazer prognósticos pessimistas, pois é preciso aguardar o comportamento da economia em 2016 e destaca que essa é a primeira redução em termos anuais ao longo da série histórica.

A SulAmérica respondeu, por meio da assessoria de imprensa, não ter identificado nenhum movimento de readequação de contratos e que a maior parte das empresas  tem mantido os benefícios de planos de saúde  odontológico aos funcionários sem alterações ou reduções.

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