‘Por que esperei até os 41 anos para perder minha virgindade’

 

Amanda McCracken dançando com o marido, Dave, no dia do casamentoAmanda McCracken dançando com o marido, Dave, no dia do casamento

Em 2013, a escritora freelancer americana Amanda McCracken publicou um artigo no jornal The New York Times que viralizou. O título era “Does my virginity have a shelf life?” (‘Minha virgindade tem prazo de validade?’, em tradução livre).

McCracken, que tinha 35 anos na época, contava as razões pelas quais decidiu esperar para fazer sexo.

“Preferia suportar a dor de perder (a oportunidade de fazer sexo) do que sofrer uma solidão mais profunda por ter me entregado ao amor apenas para me dar conta que o sentimento não era correspondido”, explicou.

Ela também contou que “ser virgem” tinha se tornado sua identidade, mas isso não a impedia de ter dezenas de relacionamentos sentimentais com homens.

Em uma entrevista para o programa Newsday, do Serviço Mundial da BBC, McCracken revelou como recebeu uma enxurrada de críticas por sua decisão de “esperar até encontrar amor e compromisso” antes de fazer sexo.

“As críticas me surpreenderam muito. Senti que estavam me punindo por ser tão honesta”, disse ela.

“Fui atacada por não seguir os preceitos da cultura dominante”.

“Agora, me dou conta de que foi muito ingênuo da minha parte supor que minha história seria aceita, ainda mais levando em conta que vivemos em uma cultura progressista, onde as mulheres são incentivadas a fazer o que quiserem com seus corpos”, analisou ela.

Ela faz uma comparação com consumo de álcool para explicar por que a virgindade dela causou indignação nos outros.

“Hoje, se você não bebe álcool é visto como algo saudável, mas no passado perguntavam: ‘Por que você não bebe? Você supõe que eu não deveria beber?'”

McCracken também diz que foi atacada por todas as frentes: conservadores e liberais.

“Acho que as pessoas ficaram muito frustradas por eu não me encaixar em nenhum dos lados. Elas não podiam me marcar.”

Como uma dieta

A escritora, que também é professora de inglês e treina corredores de longa distância, conta que quando corria, conhecia pessoas que tinham distúrbios alimentares. “Enquanto eles resistiam a comida, eu resistia ao sexo. São duas formas de exercer um tipo de controle sobre sua vida — quando as coisas estão fora de controle.”

Para McCracken, o medo de perder o controle está por trás de boa parte de sua motivação para não fazer sexo.

“Meus primeiros namorados me deixaram por outras mulheres. E uma década depois eu continuava, inconscientemente, sentindo medo toda vez que começava a namorar com alguém, e pensando que ‘se ele for me largar, pelo menos ainda terei minha virgindade'”.

Artigo de opinião de McCracken no jornal New York TimesArtigo de opinião de McCracken no jornal New York Times

Ela também reconhece que começou a se perguntar se suas expectativas de encontrar amor e compromisso eram muito altas.

E se sua decisão de não fazer sexo poderia realmente estar, na verdade, afastando suas chances de encontrar o amor e o compromisso que ela procurava.

“Mas então percebi que não era esse o caso”, revela.

Una mujer con la mano tapándole el rostroNo tener sexo era una forma de mantener el control sobre su vida, cuenta la escritora.

O amor

A história de Amanda teve um final feliz.

Em um artigo que ela escreveu no dia 14 de fevereiro (Dia dos Namorados em vários países do Hemisfério Norte) para o jornal online HuffPost, ela contou como conheceu Dave, que hoje é marido dela.

“No verão de 2018, conheci um geólogo e corredor de montanha enquanto bebia margaritas no telhado com os amigos.”

Ela tinha acabado de terminar um relacionamento “com um homem indisponível” e Dave tinha se divorciado seis meses antes, após um relacionamento de 18 anos.

“O ex-baterista de cabelos compridos de Long Island não fazia o meu tipo; mas ele de fato retornou minhas ligações e mensagens de texto”, diz ela com humor.

“No nosso terceiro encontro, ele me levou ao aeroporto e andou comigo até a entrada de passageiros. Havia algo ali, mas não necessariamente um frio na barriga.”

Coração em cima de superfície de madeiraAmanda conseguiu formar o relacionamento amoroso e comprometido que procurava

“Eu não sentia que estava apaixonada. Era tranquilo demais. Onde estava a ansiedade que eu comparava ao amor? Onde estava o medo de que ele me deixasse?”, escreveu.

No final — e graças à ajuda de vários conselheiros — Amanda percebeu que estava sabotando a si mesma.

“Eu me apaixonava por homens indisponíveis, homens com quem eu sabia que nunca faria sexo porque eles nunca me amariam ou se comprometeriam comigo.”

Ela também percebeu que tinha se tornado uma “anoréxica sexual”, que “em vez de ser viciada em rejeitar comida, ela era viciada em rejeitar sexo”.

Mas com a ajuda de Dave — em quem ela confiava completamente antes mesmo de se apaixonar por ele — ela conseguiu superar seus medos e deixou de ser virgem aos 41 anos.

“Todo mundo quer saber se valeu a pena esperar”, reconhece.

“Sim, valeu a pena, mas não da maneira que a maioria acredita.”

“O sexo foi ótimo, mas essa jornada nunca foi sobre sexo. Era sobre esperar para entrar em um relacionamento com alguém que pudesse oferecer amor e eu pudesse receber esse amor.”

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