Maior galã de Hollywood nos anos 50, o astro manteve sua homossexualidade em segredo, mas mudou a consciência da América sobre a epidemia de HIV ao revelar seu diagnóstico. “Ele foi o paciente mais influente de todos”, diz médico

Rock Hudson com Elizabeth Taylor em 1955. Foto: Reprodução
Rock Hudson no auge da fama e da forma física, em 1954. Foto: Reprodução
Rock Hudson. Foto: Reprodução
Rock Hudson e seu namorado Lee Garlington. Foto: Reprodução
Rock Hudson e o casal Reagan, que se omitiu no momento em que o astro, já doente, precisou de ajuda. Foto: Reprodução
Rock Hudson e Linda Evans nos bastidores de 'Dinastia' em 1984. Foto: Reprodução
Rock Hudson com Elizabeth Taylor em 1955.

Nos anos 50 e 60, Rock Hudson era o perfeito galã de Hollywood. Fortão e atlético, ele tinha um sorriso doce que mostrava certa vulnerabilidade. As mulheres o amavam loucamente. O segredo de que ele era gay era guardado a sete chaves num momento em que seria um suicídio profissional sair do armário. A maioria dos americanos só soube que ele gay quando Hudson morreu, em 1985.

Em entrevista para a revista “People”, um ex-namorado do ator, Lee Garlington, conta que quando Hudson precisou de cuidados médicos em Paris, em julho de 1985, seu assessor foi autorizado pelo ator a revelar que ele tinha Aids. O astro morreu em outubro, aos 59 anos. O médico infectologista Michael Gottlieb, primeiro a identificar a Aids como uma nova doença, cuidou de Hudson. “As pessoas falam da Aids antes e depois de Rock Hudson. Ele foi o paciente mais influente de todos.” O primeiro contato se deu em 1984, quando o dr. Gottlieb recebeu um telefonema de um médico de Beverly Hills sobre uma celebridade que estava doente e queria evitar publicidade.

“ Não havia muito o que fazer, não tínhamos antivirais na época. Nas semanas seguintes, sem se identificar, ele escreveu várias cartas para ex-parceiros sexuais para contar que eles tinham tido contato com alguém com Aids (dr. Michael Gottlieb)

Ao examinar Hudson, a primeira coisa que chamou a atenção foi a altura do ator, que media 1m93. A próxima foram as feridas do sarcoma de Kaposi que cobriam o corpo do ator e o levaram ao diagnóstico. “Não havia muito o que fazer, não tínhamos antivirais na época. Nas próximas semanas, ele escreveu várias cartas para ex-parceiros sexuais para contar que eles tinham tido contato com alguém com Aids, sem se identificar.” Hudson manteve seu diagnóstico em segredo e só contou a verdade para alguns amigos.

Na França, ele se submeteu a um tratamento experimental, conduzido pelo médico Dominique Dormont, que consistia em injeções de HPA-23, droga retroviral que tinha apresentado eficácia em ratos. Eles se encontravam no Hotel Ritz. Foi na sua suíte no hotel que o ator entrou em colapso em 21 de julho de 1985. Ele foi internado no Hospital Americano em Paris e uma agência de notícias francesa divulgou que ele sofria de câncer de pulmão. O dr. Dormont, que era militar, não podia tratá-lo ali no hospital civil, e tentaram obter uma autorização do então presidente francês François Miterrand. Em um comunicado oficial, o assessor de Hudson divulgou a informação de que o ator estava com Aids.

Omissão do casal Reagan

Hudson era amigo do casal Reagan e foi enviado um pedido para que o presidente americano interviesse. A Casa Branca nunca fez o telefonema necessário para Miterrand. Num memorando oficial de 24 de julho, um auxiliar disse que Nancy Reagan “não sentiu que essa era uma questão com  a qual a Casa Branca deveria se envolver”. O presidente Ronald Reagan ligou para Rock Hudson para saber como ele estava passando.

O Hospital Americano queria que ele fosse embora. Nessa altura, o ator tinha perdido 35 quilos e estava tão fragilizado que a única maneira de voltar para casa era num vôo direto de Paris para os Estados Unidos. Nenhuma companhia aérea queria aceitá-lo como passageiro. A Air France cobrou 250.000 dólares (480 mil reais no câmbio de hoje) para levá-lo para casa em um 747.

“ A Aids era tão estigmatizada que os doentes se sentiam abandonados. Tudo o que eles queriam era um sinal de esperança, e ela veio com a declaração de Hudson. Foi o evento que iniciou no país a consciência da epidemia de HIV (dr. Gottlieb)

Ele foi internado no hospital da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), onde recebeu a visita secreta de Elizabeth Taylor em agosto. Ela perguntou se podia abraçá-lo e beijá-lo, porque estava preocupada com a imunidade dele, não com a saúde dela.

Rock Hudson morreu em casa, no dia 2 de outubro de 1985. Antes de morrer, ele doou 250.000 dólares para a pesquisa da doença, e sua doação possibilitou a criação da amfAR (American Foundation for Aids Research), uma das primeiras instituições de apoio à pesquisa e aos doentes de Aids, com a qual Elizabeth Taylor se envolveu.

“Ele sabia de toda a publicidade que o anúncio de sua doença causou e estava feliz de ter vindo a público, de causar um impacto”, diz o dr. Gottlieb. “A Aids era tão estigmatizada que os doentes se sentiam abandonados. Tudo o que eles queriam era um sinal de esperança, e ela veio com a declaração de Hudson. Foi o evento que iniciou no país a consciência da epidemia de HIV. Ele foi corajoso e deixou que o seu diagnóstico mudasse a face da Aids.”