Roda Viva com Joice? Nem vi…

Vestida de preto da cabeça aos pés com um pingente em formato de mapa do Brasil no colo – o discurso já começou por aí: ela está de luto pelo Brasil que carrega no peito.

 

Mas Joice Hasselmann acabou de conquistar o meu respeito agora (sossega a raba que eu vou explicar, inferno!)

Ela controlou a entrevista o tempo inteirinho. (OK que aquele bando de jacus ajudou, quem mais tentou jogá-la em contradição foram as mulheres, inclusive a apresentadora que eu sempre achei bem fraquinha, mas nenhuma obteve muito sucesso).

Ela falou o que quis, como bem entendeu, e não se esquivou de responder pergunta nenhuma.

Vestida de preto da cabeça aos pés com um pingente em formato de mapa do Brasil no colo – o discurso já começou por aí: ela está de luto pelo Brasil que carrega no peito.

A missão primeira, maior e principal de Joice Hasselmann no Roda Viva foi enquadrar os filhos de Bolsonaro como irresponsáveis, moleques e inconsequentes. Perdi a conta de quantas vezes ela se referiu a eles como “meninos”. E TODAS as vezes que ela se referiu a eles o fez como MENINOS. Quem me acompanha há mais tempo sabe que isso se chama framing. Ela tá sabendo articular esse framing de maneira primorosa. A moldura desse framing foi folheada a ouro no momento em que ela hierarquizou a ordem de preferência de Bolsonaro: “arrisco a dizer que, entre OS MENINOS, quem tem mais influência sobre o presidente é primeiro o Carlos, depois o Eduardo e por último o Flávio”. Semeadora de cizânia. Eu só não aplaudi de pé porque tava arrumando a lava-louças nessa hora (eu tenho mais o que fazer).

Observe que, por mais que pudesse, ela não chamou os filhos de Bolsonaro de Moleques. “Moleque” é uma expressão afrontosa. “Meninos” não tem nada de afrontoso. É carinhoso, até – mas, quando ela usa essa expressão carinhosa, torna-se cínica e debochada.

No início do programa, ela falou de um “grande grupo de comunicação” que estava negociando “à época” uma bolada pra receber do governo. Não sei se esse “á época” é adjunto adverbial de tempo (ou seja, naquela época) ou se é objeto indireto / papel semântico benefactivo (para a Época). Em todas as frases que ela disse, a interpretação é magistralmente dúbia. Tenho pra mim que muita gente tremeu na rua Lopes Quintas.

Todos os recuos dela foram calculadíssimos, com direito a GIF de Renata Sorrah e tudo. Ela refugou de acusar diretamente Carlos Bolsonaro de ser o Pavão Misterioso, refugou ao dizer que tinha provas da rede de fake news mas não tinha provas de fake news durante as eleições (e neste momento pode subir o meme da Mônica “ATA”). O CEP dessa mensagem cai no colo de quem a conhece e sabe do que ela sabe.

No que pra mim foi o momento mais assombroso da entrevista, ao ser pressionada por um dos entrevistadores sobre ser espalhadora de fake news sobre urnas eletrônicas (o caso em que vc digitava apenas o 1 e aparecia a cara do Haddad, obviamente mentiroso), ela olhou firme pro entrevistador e disse, sem piscar: “eu não tenho certeza se essa informação é falsa” – o que equivale a dizer que não tem certeza se a informação é verdadeira. Gostaria da opinião dos amigos psicólogos sobre o perfil de uma pessoa que age desta forma, para não gastar a palavra psicopata sem rigor científico.

Ela começou até a atacar as feministas, e nessa hora ela deu um passeio. Véi, se uma Gleisi Hoffmann tivesse um décimo da articulação que Joice Hasselmann tem, a gente tava feito.

Num ponto eu tenho que concordar inteiramente com ela: se, diante de todos esses ataques, ela fosse fragilzinha, cairia de cama com depressão. Joice não é frágil, não é boba, não é burra. finalmente eu vi inteligência entre a horda bolsonarista.

Mas ela não está agindo sozinha. Pelo menos foi essa a impressão que me deixou. Ao declarar “100% lavajatista”, e defender Deltan com unhas e dentes – mas tudo de forma ponderada, racional, sem elevar o tom de voz, com segurança e total controle da situação – ela deixou perpassar que está alinhada, no mínimo, com Moro – óbvio, ela que manda na bagaça. E eu adicionaria um General Heleno nesse caldo aí, mas com algumas ressalvas (será que um general se aliaria a uma mulher?)

Mas, como eu disse, eu não assisti ao Roda Viva.

Boa noite.

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