Ruínas: Templos religiosos do século 18 são abandonados na área rural

 
Uma pesquisa feita pela Secretaria de Turismo de Igarassu aponta 13 templos religiosos do século 18 em processo de arruinamento

Por: Marcionila Teixeira

 

ruina1
Área externa da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem está tomada pela vegetação

Capelas rurais de Igarassu, remanescentes do século 18, estão em ruínas ou em processo de arruinamento. Exemplares de valor histórico, artístico, turístico e cultural, os imóveis são o retrato da depredação, do roubo e do descaso com o patrimônio na Região Metropolitana do Recife. A Prefeitura de Igarassu calcula 13 capelas na zona rural do município. Desse total, duas estão em ruínas, três com uma conservação ruim e outras duas em situação considerada regular. Outras seis estão em bom estado, aponta um documento da Secretaria Municipal de Cultura. O isolamento dos templos facilita a ação dos vândalos, consideram especialistas.

Um exemplo é a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, templo em arquitetura neoclássica localizado em Pasmado, às margens da BR-101. A igreja tombada pela Fundarpe, pertence ao Grupo Votorantim. Apesar de graves sinais de depredação, o prédio é considerado em conservação regular. Sua última reforma ocorreu em 1986. No entorno, não há sinal de moradias. Só há mato e cana de açúcar.
Das sete portas de madeira, apenas uma sobrou. As demais foram arrancadas. O mesmo aconteceu com as cinco janelas. Quatro delas foram roubadas. Os dois vitrais laterais também foram destruídos. Nas paredes, pichação. No chão, muito lixo. Nem mesmo a escadaria em madeira resistiu aos saqueadores. Um trabalhador do entorno da Nossa Senhora da Boa Viagem comentou ter visto um grupo de pessoas usando um detector de metais da capela em busca de objetos valiosos.
“Ao longo dos anos, as usinas compraram as casas do entorno das capelas e derrubaram os imóveis para plantar cana. Acredito que as igrejas foram deixadas de pé por causa de superstição ou crença religiosa. Muitas delas chegaram a ter plantação de cana até mesmo no terreno, mas resistiram”, lembra João Morais, secretário de Turismo e Cultura de Igarassu.
Das cinco capelas em situação considerada mais grave, ou seja, em ruínas ou em estado ruim, duas pertencem à Usina São José (Grupo Cavalcanti Petribu), uma ao estado e outras duas às famílias Chacon e Fraga. A maior parte dos templos, diz o documento, está nas mãos da Usina São José (quatro) e da Arquidiocese de Olinda e Recife (três). O fato da maioria delas não ter proteção legal, oito ao todo, facilita ainda mais o estado de abandono. Apesar do tombamento não impedir a ação dos vândalos, como acontece com a Nossa Senhora da Boa Viagem.

letras

ruinas2
Interior do templo tem entulhos e está exposto à chuva

ruina3

ruina5

Ainda sem tombamento

Uma vez por ano, o município de Igarassu fiscaliza os seus bens culturais, ao todo 34, para fotografar e constatar o estado de conservação deles. Em alguns casos, o município dá início ao processo de tombamento. A partir daí, o proprietário passa a ter obrigações com o bem.
O apoio dos donos é primordial para a recuperação do patrimônio, diz Jorge Barreto, secretário executivo de Patrimônio. A Capela de São João Batista de Guereré, pertencente à família Fraga, de Cruz de Rebouças, está em condições de conservação ruim, mas já existe um projeto para recuperá-la como apoio da prefeitura. O imóvel, que não tem proteção legal, teve seu restauro orçado em R$ 20 mil. “Pensamos em dividir a recuperação em etapas para minimizar custos. Tudo será feito em parceria com a família, que pretende dar uso religioso ao lugar”, explica o secretário João Morais.
Uma outra ideia para promover a preservação desses espaços é o projeto Igarassu: Patrimônio e História – Visitas Continuadas com Alunos das Escolas Públicas aos Bens Culturais e Ambientais do Município de Igarassu (PE). A ideia existe desde 2011 e agora está com todos os roteiros concluídos, entre eles a rota das capelas rurais. “Queremos colocá-lo em prática. Para isso, dependemos não só de todos os órgãos envolvidos, mas também dos proprietários desses bens, que, acreditamos, apoiarão o projeto”, completou Barreto. O patrimônio e a população agradecem.
Fonte: Diário de Pernambuco

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *