Tadalafila no pré-treino? Pode ser um tiro no pé

Medicação usada para disfunção erétil se popularizou nas academias, mas faltam estudos para comprovar eficácia

Por Alan Rodrigues

Uso de pílulas para disfunção erétil para melhorar desempenho nos treinos preocupa médicos – 
Remédio usado para combater a disfunção erétil, a tadalafila vem sendo usada por jovens sem indicação médica, para melhorar a performance sexual e, recentemente, passou a fazer parte da rotina de treinos de muitos frequentadores de academias.

O motivo seria o melhor fluxo sanguíneo propiciado pela dilatação de vasos, que elevaria o desempenho e recuperação muscular, além de favorecer o ganho de massa. Nada comprovado cientificamente até o momento.

O perigo, segundo o urologista André Costa – diretor de Sociedade Brasileira de Urologia, seção Bahia -, é, além de não ter o efeito esperado, são os efeitos colaterais e até mesmo o desenvolvimento de tolerância à medicação, prejudicando o tratamento da disfunção erétil, quando a medicação for realmente necessária.

“Em pessoas jovens, seja para ereção ou como pré-treino, não foram estudados os efeitos colaterais da tadalafila a longo prazo, como por exemplo a necessidade de doses cada vez maiores para fazer efeito ou até perder efeito quando esses indivíduos adquirirem uma idade que precisarem de um remédio para disfunção erétil”, diz o urologista.

“Além disso, outros efeitos colaterais, como dor de cabeça, congestão nasal, azia e dores musculares podem acontecer também”, acrescenta.

A tadalafila é um medicamento usado para tratar a disfunção erétil e a hiperplasia prostática benigna. Ela age dilatando os vasos sanguíneos, o que facilita a ereção e alivia os sintomas da próstata aumentada.

Desvio de função

Assim como o Viagra, foi concebida para tratamento de pacientes com hipertensão pulmonar. ‘Para pessoas em que os vasos do pulmão são mais rígidos, ele relaxa e melhora a passagem de sangue no pulmão’, explica Dr. André Costa.

“Uma prática que vem se divulgando por aí é o uso como pré-treino, ou para melhorar a performance no exercício ou até como recuperação muscular. O que pode se dizer sobre essa indicação é que não existe respaldo científico. Alguém inventou, baseado no racional de que como a medicação é vasodilatadora poderia melhorar o fluxo de sangue para os músculos e com isso melhorar a performance e a recuperação muscular”, explica Dr. André Costa.

Segundo o urologista, a suposição não faz muito sentido, uma vez que durante a prática de exercícios já são liberados hormônios, como as catecolaminas, que fazem o papel de direcionar o fluxo de sangue para os músculos e restringir o fluxo de sangue para os locais onde menos importa, por exemplo a pele ou o pênis.

“Então, a tadalafila poderia fazer o contrário, desviar sangue para locais onde menos importa no exercício. O fato é que não há nenhum respaldo científico que diga que isso é benéfico, a não ser para quem tem hipertensão pulmonar que realmente melhora a capacidade pulmonar”, diz o urologista.

Muleta

Dr. André Costa acredita que ‘quando surgirem estudos, os indivíduos vão perceber que estão gastando dinheiro à toa, sujeitos a efeitos colaterais indesejáveis e, eventualmente, uma possibilidade de tolerância numa população jovem e saudável que pode precisar do medicação futuramente’.

Além disso, se usado por jovens sem necessidade, a tadalafila pode causar dependência psíquica em quem faz uso para melhorar a performance sexual, uma vez que uma das principais causas da disfunção erétil é psicogênica.

“Uma vez que ele não tenha esse ‘amuleto’, a pílula mágica, pode aumentar seu grau de ansiedade e acabar tendo uma disfunção erétil de origem psicogênica”, alerta o especialista.

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