Tem início a Guerra dos Cem Anos

Conflito entre França e Inglaterra marcou profundamente o continente, sendo o marco final da Idade Média

Em 7 de outubro de 1337, na abadia de Westminster, o rei da Inglaterra Eduardo III lança publicamente um desafio ao seu primo, o rei da França. Contesta a legitimidade de Filipe VI de Valois e reivindica a coroa da França para ele mesmo.

É o começo da Guerra dos 100 Anos que, apesar do nome, duraria até 1475.

A subida ao trono de Filipe VI, após a morte do último filho de Filipe o Belo, não ocorreu sem suscitar contestação. Assim que foi coroado, o novo rei da França tentou consolidar sua autoridade ao esmagar em Monte Cassel, em 23 de outubro de 1328, os flamengos, que se insurgiram contra seu conde, Luís de Nevers.

Depois desse episódio, lembrou ao rei da Inglaterra que ele lhe devia render homenagem por suas possessões de Guyenne e de Gascogne. Segundo as normas feudais, essas províncias pertenciam à monarquia francesa, mas que haviam sido confiadas aos Plantagenêts – dinastia reinante na Inglaterra entre 1154 e 1399 – na condição de feudos.

As coisas logo ficaram feias. O conde de Flandres toma partido do rei da França na querela que se inicia. Os burgueses flamengos deviam sua prosperidade à lã inglesa que eles importavam em quantidade, e fiavam os agasalhos que vendiam por toda a Europa.

Eduardo III pune Flandres impondo embargo sobre as exportações de lã inglesa em 12 de agosto de 1336. Em dificuldades, os fabricantes de roupas flamengos se revoltam contra o conde, sob o comando de Jacob van Artevelde, um mercador de Gand, cheio de carisma e dotado de eloquência. Ele sugere ao rei da Inglaterra que exija para si mesmo a coroa da França.

Filipe VI, longe de acalmar a refrega, declara em 24 de maio de 1337 o confisco de Bordeaux e do ducado de Guyenne, dando início à guerra.

O rei da Inglaterra, por seu lado, é encorajado para ir à guerra por Robert d’Artois. Após a morte do conde Filipe de Artois na ‘‘batalha das esporas de ouro’’, este colérico senhor feudal foi afastado da sucessão em favor de sua tia Mahaut. Cunhado do rei Filipe, mergulha numa intriga sem trégua na tentativa de reaver seus direitos, não hesitando em produzir falsos documentos. Sua esposa e seus filhos são encarcerados  em Château-Gaillard. Ele mesmo se vê obrigado a fugir e vai buscar a revanche em Londres. Esse personagem truculento está no centro da saga histórica de Maurice Druon : Os Reis Malditos.

Eduardo III desafia, então, publicamente Filipe VI chamando-o de ‘‘Filipe de Valois, que se diz rei da França’’. Alguns meses mais tarde, em janeiro de 1338, acolhido por seus aliados flamengos em Gand, ele assume publicamente o título de ‘‘Rei da França !’’.

O conflito iria se desdobrar numa guerra de sucessão aberta na Bretanha com a morte do duque Jean III.

O rei da Inglaterra tinha antes de mais nada vantagem sobre seu primo e rival, Filipe VI. A frota francesa havia sido destruída no porto flamengo de Écluse, rio abaixo de Bruges, em 24 de junho de 1340. Alguns anos depois sobrevem em Crécy o primeiro confronto terrestre.

Nos 116 anos efetivos de guerra, a França chegou a ter grande parte de seu território compometido. No entanto, emergiu do conflito como vencedora, fortalecendo sua monarquia e dando berço à identidade nacional. O fim da guerra também marcou o fim do feudalismo e de possessões inglesas no continente, e é considerado simbolicamente como o fim da Idade Média.

O conflito marcou profundas transformações sociais, econômicas e políticas no continente, vindo a delinear o teor dos futuros confrontos entre as grandes monarquias europeias.

Não houve batalha significativa depois de 1453, mas o confilto só terminou em 1475 com a assinatura do Tratado de Picquigny pelo rei francês Luís XI e por Eduardo IV, rei derrotado na Inglaterra.

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