Vídeo: Odebrecht negociava propina do PMDB com Jucá e Padilha, diz Marcelo

Ex presidente da Câmara Eduardo Cunha também tratava com outros executivos

POR CAROLINA BRÍGIDO

O dono da empresa que leva seu nome, Marcelo Odebrecht, disse na delação premiada que o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, concentrava em apenas dois interlocutores no Congresso Nacional a negociação do pagamento de propina a toda a bancada do PMDB: no Senado, as tratativas eram feitas com Romero Jucá (RR) e, na Câmara, com Eliseu Padilha, o atual ministro da Casa Civil. O dono da empreiteira disse ainda que o ex-deputado Eduardo Cunha (RJ) também negociava em nome do PMDB, mas isso era feito com outros executivos da Odebrecht.

 

— No caso do PMDB, o Cláudio informava que ele concentrava as discussões dele no Jucá no Senado e com Eliseu Padilha na Câmara. Tinha também o Eduardo Cunha, mas era mais diretamente com outros empresários que ele conhecia na empresa — disse Marcelo, que complementou o raciocínio em outro trecho:

— Jucá e Padilha representavam um grupo. Cláudio me dizia: “eu acerto com Jucá, tá resolvido o PMDB do Senado; acerto com o Padilha, tá resolvido o PMDB da Câmara”.

Romero Jucá e Eliseu Padilha, o atual ministro da Casa Civil – Montagem de fotos da Agência O Globo

Marcelo afirmou também que, segundo Melo, Jucá coordenada o interesse de todos os integrantes do PMDB no Senado – e cita como exemplo o ex-presidente da Casa Renan Calheiros (AL) e o atual, Eunício Oliveira (CE). Na Câmara, o controle era mais difuso, já que Padilha dividia o reinado com Cunha. Segundo o delator, Cunha conhecia muitos empresários da Odebrecht, com quem tinha contato direto.

O depoimento foi prestado no acordo de delação premiada que os executivos da Odebrecht firmaram com o Ministério Público Federal. Essas declarações embasaram a abertura do inquérito aberto contra Padilha e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco. Marcelo também revelou aos investigadores que Melo era o responsável por se relacionar com os principais caciques do PMDB no Congresso. O dono da Odebrecht disse que o ex-deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) era um dos maiores aliados da empreiteira. Em contrapartida, costumava pedir doações de campanha. Para Marcelo, isso era “legítimo”.

— Uma pessoa que ele (Cláudio Melo) sempre usou como referência é o Geddel. Geddel é um cara da relação antiga dele e de meu pai (Emílio Odebrecht). Conheço Geddel de maneira protocolar, mas eles sempre diziam: “Geddel é um cara que briga pela gente, qualquer coisa que a gente pede lá, Geddel vai, se desgasta, faz e acontece. Agora, se prepare, porque ele vai criar uma expectativa na época de eleição muito além do que a gente daria pra qualquer outro deputado ou senador”. Você faz esforço e cria expectativa em relação a determinados congressistas. Eu via de maneira mais legítima quando a pessoa criava expectativa em torno de caixa dois do que se o cara pedisse na hora — disse Marcelo no depoimento.

O dono da Odebrecht também detalhou como era a negociação de Melo com o PMDB no Congresso. Ele disse que muitas vezes não era acertado um valor específico para pagar o “favor” feito pelo parlamentar. Segundo Marcelo, os congressistas criavam uma “expectativa” de que a empresa colaborasse com doações eleitorais via caixa dois. O delator afirmou que, quando isso acontecia, a empresa tinha o “compromisso moral” de arcar com o pagamento.

— Por exemplo, um cara que ajudava muito a gente vinha com um pedido grande. E aí sempre dava um estresse. O Cláudio vinha com a expectativa. Ele era o interlocutor, mas ele não tinha sempre resultado, ele tinha que arrancar de algum negócio. Eu dizia: “Cláudio, se tem uma medida provisória, se tem qualquer processo no Congresso, e você precisa de um apoio de um senador, um deputado, seja assumindo um compromisso explícito ou não, sempre deixe claro com o negócio (a área responsável pelo pagamento) que você tem o compromisso. Você tem o compromisso moral e o cara criou a expectativa — contou Marcelo.

O delator afirmou que essa metodologia foi sendo “disciplinada” com o tempo por ele mesmo, que costumava aconselhar Melo a sempre comunicar ao setor da empresa beneficiado pelo favor que isso geraria uma despesa no futuro. A negociação era feita caso a caso, com setores da Odebrecht.

— Com essa disciplina, com o tempo, (porque) no início foi difícil, quando chegava nas campanhas, já se sabia quem ia arcar com cada deputado. Ou foi feito um acordo, ou foi gerada expectativa por conta do apoio que deu, caso a caso — informou.

Ainda segundo o depoente, era melhor “criar a expectativa” do que pagar a cada favor realizado. Com essa metodologia, o empresário acredita que a relação com os parlamentares ficava mais “sustentável”, era “uma coisa meio fluida”.

— As pessoas que a gente tinha relação mais forte, em geral, ficavam na expectativa. Em geral, você não cria uma relação sustentável no toma-lá-dá-cá. Toda hora que der um apoio dizer “eu quero tanto” não é uma relação sustentável. Em geral, as relações mais duradouras são aquelas em que o cara sempre te ajuda e você tá sempre ajudando ele. Quando mais você ajudou ele, mais cria expectativa para a eleição seguinte. É uma coisa meio fluida. Se você não tem conversa a priori, cria uma expectativa. Quando chega na época de eleição, aí é que entra a questão de entrar nos negócios — contou.

 

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