20 minutos de puro terror: há 103 anos, os Romanov eram executados na Rússia

Em uma sala fria, Nicolau II e sua família foram sentenciados à morte e fuzilados em um episódio curto, mas terrível

Pamela Malva
Família imperial Romanov em imagem colorizada
Família imperial Romanov em imagem colorizada – Divulgação/ Klimbim

Com o poder dos bolcheviques crescendo a cada dia na Rússia, o czar Nicolau II e sua família foram levados para a inconfundível Casa Ipatiev, em Ecaterimburgo. Na época, todavia, a propriedade foi apelidada estrategicamente de Casa da Proposta Especial.

Segundo o historiador David Bullock, foi nesse mesmo período que os bolcheviques passaram a acreditar que os checoslovacos tinham o objetivo de libertar os Romanov. Por isso, inclusive, eles teriam acelerado a execução da família do último czar da Rússia.

Acontece que, para os bolcheviques, a família de Nicolau II e o próprio imperador poderiam representar uma esperança para o Exército Branco, composto por uma aliança entre anticomunistas — o czar poderia, inclusive, ser considerado o legítimo governante da Rússia pelas nações europeias caso continuasse vivo.

Foi nesse contexto quase explosivo que a família Romanov acabou executada no dia 17 de julho de 1918, há exatos 103 anos. Naquela madrugada, o czar Nicolau II, sua esposa e todos os seus herdeiros protagonizaram um ‘fuzilamento’ assustador e absoluto.

Czar Nicolau II e sua família / Crédito: Domínio Público

 

Mudança de ares

Em seu livro ‘Os últimos dias dos Romanov’, a autora Helen Rappaport revela alguns dos detalhes mais sórdidos da execução da família do czar. No total, foram cerca de 70 balas disparadas — sete para cada atirador — em um período de curtos 20 minutos.

Tudo começou, segundo a autora, por volta da meia noite do dia 17 de julho. Apressado para acabar com os prisioneiros, o comandante Yakov Yurovsky exigiu que o Dr. Eugene Botkin, médico dos Romanov, acordasse toda a família e os vestisse apropriadamente.

A desculpa dada por Yurovsky era de levar Nicolau II e seus herdeiros para um local seguro, que, na verdade, era apenas uma sala de 30 m2. Para os Romanov, restava esperar por um caminhão de transporte, que os tiraria dali — mas já sem vida.

Fotografia das irmãs Romanov / Crédito: Domínio Público

 

Piscar de olhos

Após alguns minutos de mistério, Yurovsky irrompeu pela porta dupla do aposento e sentenciou Nicolau II, lendo a ordem de condenação redigida pelo Comitê Executivo do Ural. O czar não conteve sua surpresa, mas mal teve tempo de fazer alguma pergunta.

Percebendo a situação em que se encontravam, a czarina Alexandra e a grã-duquesa Olga tentaram fazer um sinal da cruz, mas não conseguiram terminar suas rezas. Com as armas apontadas para a família, Yurovsky ordenou que o fuzilamento começasse.

Foram 20 minutos de puro terror, com dezenas de tiros sendo disparados à queima roupa. Tamanho era o estrondo das balas que algumas famílias que dormiam nos quartos adjacentes acabaram acordando no meio da madrugada.

Yakov Yurovsky, bolchevique que liderou a morte dos Romanov / Crédito: Getty Images

 

Tiros fatais

Nicolau II foi morto instantaneamente, com tiros contra seu peito. Alexei, que tinha 13 anos, foi assassinado com apenas dois tiros fatais na cabeça. Alexandra e algumas de suas filhas, no entanto, não foram vítimas do fuzilamento, mas sim de uma baioneta.

As grã-duquesas Tatiana (21), Anastásia(17) e Maria (19), por exemplo, carregavam diversos diamantes em suas vestimentas, que teriam protegido seus corpos das balas. Ainda assim, por mais que estivessem agachadas contra a parede, Maria e Anastásia foram mortas em segundos, enquanto Tatiana levou um tiro na cabeça.

Anna Demidova, a empregada de Alexandra que acompanhava toda a cena, também não faleceu apenas com os tiros. Ela foi, na verdade, colocada contra a parede e morta pelas costas, levando diversas investidas de uma irredutível baioneta. Olga, a filha mais velha do imperador, por sua vez, também foi atingida na cabeça, aos 22 anos.

Local de execução dos Romanov / Crédito: Getty Images

 

Descanso após o fim

Logo que todos os membros da família e seus empregados foram dados como mortos, as portas da sala foram abertas, para que a fumaça da pólvora se dissipasse. Os corpos fuzilados, então, foram colocados em um caminhão, que os levou até sua cova.

No meio do transporte, Yurovsky descobriu que Pyotr Ermakov e seus soldados estavam embriagados e que haviam trazido apenas uma pá para o enterro da família do czar. Para piorar, o caminhão ainda ficou atolado em uma área pantanosa da região.

Por isso, inclusive, todos os corpos foram enterrados nas proximidades da linha férrea Gorno-Uralsk. A vala onde os cadáveres foram sepultados tinha cerca de 60 cm de profundidade e, para que os Romanov não fossem reconhecidos, seus corpos foram mergulhados em ácido sulfúrico e cobertos por cal virgem. Era o fim definitivo do czar.

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