Ditadura militar promoveu desigualdade no Brasil
Estudo de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reacende um debate que, nos anos 70, mobilizou grandes nomes da economia nacional ao atestar que o ciclo político tem influência na trajetória da desigualdade: “Meus resultados confirmam que houve aumento da desigualdade (a partir do golpe de 64) e indicam que a fatia dos mais ricos aumentou principalmente nos primeiros anos da ditadura”, indica Souza; “A grande pista está dada. O Estado é um elemento crucial para determinar a trajetória da desigualdade”, afirma; antes do golpe militar de 1964, governos democráticos, como os de Juscelino Kubitschek e João Goulart, vinham reduzindo a concentração de renda.
Após uma queda ampla ininterrupta entre 1942 e 1963, a desigualdade social no Brasil deu um salto e voltou a crescer rapidamente nos primeiros anos da ditadura militar, a partir do golpe de 64.
A conclusão faz parte de uma pesquisa, de autoria de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, sob orientação de Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Universidade de Brasília (UnB). O estudo reacende um debate que, nos anos 70, mobilizou grandes nomes da economia nacional em torno da questão.
No âmbito geral, o Brasil sempre foi muito desigual. Em média, ao longo das nove décadas analisadas pela pesquisa, cerca de 15% de toda a renda do país esteve concentrada nas mãos da fatia 1% mais rica. A desigualdade é grande até dentro da elite: historicamente, após 1974, a parcela 0,1% mais rica deteve entre 8% e 15% da renda total.
Entre 2006 e 2012, o 1% mais rico concentrava mais renda, comparativamente, do que toda a metade mais pobre da população.
A novidade da pesquisa é apontar que a desigualdade social pode ser conduzida politicamente. “A grande pista está dada. O Estado é um elemento crucial para determinar a trajetória da desigualdade”, afirma o pesquisador Souza, em entrevista ao Valor.
“Meus resultados confirmam que houve aumento da desigualdade e indicam que a fatia dos mais ricos aumentou principalmente nos primeiros anos da ditadura”, disse. Ele destaca que a estratégia do regime militar para lidar com a inflação e tentar alavancar o crescimento basicamente tentou reduzir o custo do trabalho via arrocho salarial e aumentar o retorno do capital. “Já nos primeiros anos depois do golpe diversos incentivos fiscais para determinados investimentos foram incluídos nas regras do imposto de renda”, acrescentou (leia mais).