Angélica Kvieczynski
Reprodução / CBG

Angélica Kvieczynski revelou que pensou em suicídio

Ex-atletas da seleção brasileira de ginástica rítmica denunciaram abuso moral, xingamentos e controle radical do peso em matéria que foi ao ar neste domingo, no Esporte Espetacular.

Ao todo, a reportagem ouviu 27 ginastas e todas confirmaram incidentes do tipo e traumas decorrentes destas experiências. Uma delas é a ex-ginasta Angélica Kvieczynski , medalhista nos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, e em 2015, em Toronto.

De acordo com a reportagem, as atletas que sofreram abuso defenderam a seleção brasileira da modalidade de 2000 até a última Olimpíada, no Rio de Janeiro, em 2016. Todas entre 15 e 25 anos.

Angélica relatou que quase se suicidou por conta dos traumas que sofreu. Angel, como era chamada, foi a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha no individual geral, e a única a conquistar quatro medalhas em uma edição de Jogos Pan-americanos.

Em Guadalajara foram três bronzes (individual geral, arco e bola) e uma prata (maças). Em Toronto em 2015, ganhou mais dois bronzes (fita e arco).

— Comecei a usar roupa da minha mãe, roupas muito largas, eu me sentia nojenta. O que me fazia sentir melhor era comer, me sentia um lixo. Isso é a primeira vez que estou falando: eu ia cortar os punhos, entrar no banheiro e me cortar, só não consegui porque minha irmãzinha chegou no quarto. Eu nunca mais ia ver ela. Eu desisti, a minha irmãzinha sempre foi meu anjo.

A paranaense relatou que foi xingada durante os treinamentos por conta de seu peso:

— Parece um cavalo saltando, uma vaca gorda saltando aqui na minha frente, de tão pesada que você está.

A reportagem traz ainda o depoimento de Ana Alencar, que integrou seleção brasileira de ginástica rítmica de 2008 a 2010. Segundo ela, se as atletas tivessem engordado durante o fim de semana eram punidas pelos treinadores. Ela também disse ique mal podia beber água e que tinha de ficar praticamente pelada ao subir na balança, várias vezes ao dia.

O uso de laxantes era comum, segundo Angelica. Ela garante que os treinadores sabiam, uma vez que todas “tinham olheiras, boca roxa e tremedeira”.

Clarisse Santos, atleta da seleção em 2005 e 2006, disse que ouviu de um técnico que ela precisava emagrecer em um dia 4 quilos e que, após treinar em jejum durante todo o dia, desmaiou ao chegar em casa. Os pais dela entraram em contato com a Confederação Brasileira de Ginástica, mas nunca obtiveram uma resposta sobre o episódio.

O assessor jurídico da CBG, Paulo Schimtt, responsável pelo programa de integridade e ética da CBG, criado em 2018, negou que tenha recebido o e-mail dos pais de Clarisse e confirmou que “erros” devem ter sido cometidos. Ele disse que há tempos, a entidade implementou programa grande de integridade, com estudos, cartilhas, curosos, palestras e intervenções para estimular denúncias.

A matéria mostra também uma entrevista com a atual nutricionista da seleção, Renata Rebello Mendes, da Universidade Federal de Sergipe, que, desde 2015, tem parceria com a entidade. Ela afirma que atualmente não há balança na concentração para justamente desestimular as atletas a ficarem se pesando diariamente. Disse ainda que elas não são proibidas de beber água e comer frutas, ao contrária, são até estimuladas a isso.

Atletas da atual seleção, usaram as redes socias para dizer que atualmente o grupo é uma família. Como Bia Linhares que escreveu na legenda de uma fota da seleção: “Um dos momentos mais que especial da minha vida… Trabalho em equipe é como uma corrente forte ; em que a confiança, segurança e eficiência da corrente como um todo depende da união e honestidade de cada elo. Amo vocês time!”.