Atlas do Recife: Um resgate histórico da evolução urbana da cidade

Além da pesquisa histórica, o Atlas do Recife também traz informações arqueológicas da capital pernambucana

O arquiteto José Luiz Mota Menezes fez um levantamento do quanto se perdeu de memória no Recife / Foto: Reprodução do Atlas do Recife

O arquiteto José Luiz Mota Menezes fez um levantamento do quanto se perdeu de memória no Recife
Foto: Reprodução do Atlas do Recife
Cleide Alves

O Atlas Histórico e Cartográfico do Recife, lançado em 1988 pelo arquiteto José Luiz Mota Menezes e referência para pesquisas sobre a evolução urbana da cidade, ganhou versão atualizada impressa e em meio eletrônico. Ainda sem data para publicação, o Atlas do Recife livro traz mais mapas – agora com base geométrica e precisão digital – e o acréscimo de informações arqueológicas.

Para a produção do primeiro atlas, o arquiteto trabalhou com superposição de mapas de diferentes épocas, de 1612 a 1980, e mostrou o crescimento do Recife por quadras, usando desenhos analógicos. A publicação é fruto de um extenso projeto de pesquisa, com levantamento em cartografia, gravuras, litografias e fotografias da rede de esgotamento sanitário, rede elétrica desde a época do gás encanado e edificações destruídas em reformas.

O novo Atlas do Recife – Arqueológico e Cartográfico é desenhado em meio digital, o que reduz o percentual de erros na localização de quadras e prédios, e cobre o período de 1537 (o ano de fundação da cidade) a 2000. “Com a atualização do Atlas Cartográfico, é possível saber o que acontecia no Recife em 1817, o ano da Revolução Pernambucana, por mapas e imagens”, declara o arquiteto.

Ao confrontar mapas de 1808 e 1824 ele identificou o endereço do Quartel do Regimento de Artilharia, onde o capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado, reagiu à ordem de prisão, assassinou o comandante com golpes de espada e deu início à Revolução de 6 de março de 1817. A área, hoje, é ocupada pelo Edifício Seguradora, na esquina da Avenida Dantas Barreto com a Rua Marquês do Recife, no bairro de Santo Antônio, no Centro.

 

“Encontrei mapas com a Igreja de São Pedro dos Clérigos sem nenhuma construção por trás do prédio e mapas que trazem a área já edificada. Não tenho como dizer qual foi a primeira casa erguida no local, mas é possível afirmar a época da ocupação”, afirma José Luiz, sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. No Atlas do Recife, as edificações são identificadas pela numeração antiga e atual.

Os mapas também revelam projetos que não foram executados, como um jardim inglês proposto para o Parque 13 de Maio. O Atlas Histórico Cartográfico (esgotado), publicado pela Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco, com apoio da Prefeitura do Recife, resgata a cidade de 1537 a 1906. O segundo volume, de 1906 a 1980, não chegou a ser editado. Ao retomar a pesquisa, o arquiteto recorreu à Unibase do Recife de 1980, com dados cadastrais unificados.

Arqueologia

Se o Atlas Cartográfico revela como o Recife cresceu, o Atlas Arqueológico evidencia o quanto se perdeu de memória, com demolições. O trecho pesquisado inclui o Bairro do Recife, Santo Antônio, São José, Boa Vista e Soledade. “O levantamento arqueológico não é uma obra completa, novas informações podem surgir. Dei partida com o material que já tinha.”

O Atlas do Recife traz as perdas decorrentes da reforma executada no Bairro do Recife (entre a Rua Vigário Tenório e a Avenida Barbosa Lima) e da abertura das Avenidas Dantas Barreto (São José) e Guararapes (Santo Antônio). “O Recife tem uma característica muito peculiar, ela é uma cidade em cima de outra. Não existe outra igual no Brasil. Há uma cidade holandesa sob o bairro de Santo Antônio”, destaca José Luiz.

Piso e alicerces de edificações antigas demolidas no Bairro do Recife encontram-se a 1,5 metro de profundidade, comenta o arquiteto. “A capela-mor da Igreja do Corpo Santo, a igreja mais antiga do Recife, está atrás da porta dos fundos do prédio da Associação Comercial”, exemplifica. O Atlas do Recife tem 40 mapas, sendo 20 de 1537 a 1906 e outros 20 de 1906 a 2000, acompanhados de narrativas com textos para contar essa história.(JC)

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