Chef de celebridades, Malu Mello relata abusos na infância: “Fui molestada por um vizinho e até por um juiz”

A profissional também conta que viveu condições análogas à escravidão aos 14 anos, quando trabalhou para casal de advogados

A chef de cozinha Malu Mello, um dos nomes de destaque da gastronomia do Rio de Janeiro, fez um depoimento ao jornal O Globo, publicado nesta segunda-feira (10), com detalhes sobre abusos sexuais que sofreu na infância. Ela também diz ter trabalhado em condições análogas à escravidão aos 14 anos.

Malu inicia seu relato contando sobre a origem humilde de sua família em Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. O pai dela era agricultor; a mãe, dona de casa. “Sou a caçula de oito irmãos. Onde nasci, não tinha TV, telefone nem asfalto. Água, só a de poço. Vivíamos distantes de tudo. Desde criança, me dei conta de que só sairia daquela realidade por meio do estudo”, conta a chef de cozinha.

Dos 7 aos 13 anos, a profissional diz ter sido abusada sexualmente por um parente. Os abusos também foram cometidos por um vizinho dela e até por um juiz. “Aproveitou da inocência de uma criança que nunca tinha tido uma boneca”, lamenta a chef.

“Ele veio com um ursinho de pelúcia, sentou-me no seu colo e me fez sentir seu pênis ereto. Não sabia o que aquilo significava, mas não ficava confortável. Os abusos se agravaram porque, naquela fase, meu pai precisou realizar uma cirurgia de coluna num hospital na capital. Minha mãe teve que acompanhá-lo e nós ficamos sozinhos, sendo ‘olhados’ por conhecidos. Só consegui falar sobre esse assunto aos 30 anos, num retiro espiritual. Dói muito até hoje”, desabafa Malu.

O relato da chef também cita um trabalho análogo à escravidão que foi submetida aos 14 anos, quando foi morar na capital fluminense.

“Quando fiz 14, surgiu a chance de ir para o Rio, trabalhar na casa de um casal de advogados. Minha função seria tomar conta dos filhos pequenos. Não hesitei em partir, queria escapar dos abusos. Porém, quando cheguei lá, vivi em condições análogas à escravidão. Acordava às 4h30, servia o café, colocava e tirava a mesa, fazia o almoço, lavava roupa, levava e buscava as crianças no colégio, cozinhava o jantar. À noite, estudava. Dormia à 1h da manhã e no, dia seguinte, começava tudo de novo. Recebia menos do que um salário mínimo e não tinha folgas nem aos finais de semana”, conta a chef.

“No colégio, fiz amizade com um rapaz chamado Bruno, que me chamou para ir morar com a família dele, na favela. Fui embora sem olhar para trás. A casa tinha apenas um cômodo, mas muita solidariedade. Fiquei lá por um tempo até voltar para minha cidade, onde me formei no Normal. Já cozinhava desde criança, mas comecei a fazer bolo e empadão para pagar a formatura”, completa Malu.

Em 2011, Malu começou a estudar Gastronomia, e assim pode estagiar na cozinha de grandes chefs, como Felipe Bronze. Hoje, aos 37, ela tem um catering que leva seu nome, com clientes como Marina Ruy Barbosa e Preta Gil. “A cozinha me conecta com a minha família: sem minhas raízes, erros e acertos, não teria chegado até aqui”, finaliza.

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