Com lugar na “câmara e na igreja”, evangélicos articulam ampliação de bancada no Legislativo soteropolitano

Por Gabriel Lopes / Mauricio Leiro

Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias

Responsáveis por puxar uma quantidade massiva de votos, as igrejas evangélicas têm desempenhado importante papel a cada eleição. Em Salvador, o cenário não deve ser diferente com o pleito de outubro que se aproxima, e as articulações para acomodar candidatos ligados aos diferentes segmentos evangélicos foram aquecidas com o fechamento da janela partidária.

Para se ter ideia da força do segmento evangélico, na última eleição de 2020, entre os 10 vereadores mais votados na capital baiana, metade faz parte da chamada “bancada evangélica”.

Nos bastidores, políticos citam a capacidade de organização que as igrejas têm para fazer a matemática eleitoral e eleger seus representantes no Legislativo. Um dos casos de destaque é o da Igreja Universal do Reino de Deus, a IURD. Com candidatos bem definidos para o pleito, a igreja tem a pretensão de ampliar sua bancada dentro da Câmara de Vereadores de Salvador, representada majoritariamente pelo Republicanos.

Na capital a ideia é manter as cadeiras de Luiz Carlos Souza, Júlio Santos e Ireuda Silva, todos candidatos a reeleição pelo partido. Os dois primeiros chegaram a ocupar, de forma alternada, o cargo de secretário de Infraestrutura na gestão do prefeito Bruno Reis (União).

O movimento já é comum no fazer político, especialmente nas instâncias municipais, pois permite que o primeiro suplente da legenda assuma temporariamente a cadeira na Câmara enquanto o titular estiver licenciado no secretariado. Foi o caso de Alberto Braga, que trocou o Republicanos pelo União Brasil na janela partidária.

Além dos vereadores já citados, a IURD também projeta ampliar sua atuação no Legislativo soteropolitano com a futura candidatura do pastor Kênio Rezende, agora filiado ao PRD. A ideia é ocupar o espaço deixado pelo vereador Isnard Araújo (PL), que anunciou no início do ano seu desligamento das atividades como pastor da Igreja Universal. Kênio é visto como potencial puxador de votos para o PRD e lideranças apontam que ele deve ter caminho tranquilo para ser eleito em 2024 apesar de nunca ter sido testado nas urnas.

Com o peso da IURD no processo, nenhum dos membros eleitos em 2020 recebeu menos de 8,8 mil votos: Luiz Carlos foi o vereador mais bem votado na cidade com 17.035 votos; o próprio Isnard Araújo (12.799 votos); Ireuda Silva (12.098 votos) e Júlio Santos (8.810 votos).

No caso de Isnard, agora sem o apoio direto da Universal, o edil terá que procurar novos auxílios para manter ativo seu mandato a partir do próximo ano. Chegou a ser especulado que ele deixaria o PL para a disputa eleitoral, mas o movimento não se concretizou e ele fica no partido. Em fevereiro, o Bahia Notícias mostrou que o vereador já tinha engatilhado um novo “fiador” do segmento evangélico para sua campanha.

A expectativa é que ele recebesse o apoio de Átila Brandão Júnior, bispo da Igreja Batista do Caminho (IBCA) e filho do bispo, ex-militar e político Átila Brandão. A articulação, no entanto, foi por água abaixo e a IBCA será representada por um nome “da casa”: a ex-vereadora Lorena Brandão, que agora tenta retornar à Câmara de Salvador.

Na Câmara desde 2005, Isnard também tem buscado ampliar sua base dialogando com outras vertentes religiosas. Interlocutores da Câmara de Vereadores confirmaram ao Bahia Notícias que o parlamentar projeta angariar votos ligados a religiões de matrizes africanas e também já começou a fazer conta.

ASSEMBLEIA DE DEUS

Outra ala evangélica que também costuma ter representação no Legislativo é a Assembleia de Deus. Segundo apuração do BN, para 2024 há uma tendência de a igreja unificar seu apoio em torno do nome de Jovelina Souza da Silva, conhecida como Tia Jove. Nos bastidores ela é apontada como uma das grandes apostas para o pleito soteropolitano.

A candidatura em 2024 não será novidade para Tia Jove, já que ela teve o nome lançado em duas oportunidades em Salvador: em 2012, pelo PSC, quando obteve 929 e não foi eleita, e em 2020, quando já estava no PSDB e recebeu 4.492 votos. O número da última eleição a colocou na condição de primeira suplente do partido na Câmara.

Além disso, a Assembleia de Deus tem ampla representatividade nos Conselhos Tutelares da capital baiana. Dos 120 conselheiros e conselheiras eleitos em outubro de 2023 para atuar nos 24 Conselhos Tutelares no quadriênio 2024/2028, dez entre os 20 mais votados foram apadrinhados pela Igreja Assembleia de Deus, inclusive a candidata mais votada: Viviane Silva Peixoto, eleita com 5.680 votos. Do total de eleitos na ocasião, 25 têm vínculo com a igreja.

Dentro do segmento evangélico soteropolitano também é apontado como nome forte o vereador Ricardo Almeida, que recebeu mais de 10 mil votos em 2020 e agora vai disputar a reeleição filiado ao DC. Almeida é pastor na Primeira Igreja Batista do Brasil (PIBB).

E também a vereadora Cátia Rodrigues (União), da Igreja Internacional da Graça de Deus, que tem R. R. Soares como líder e fundador. Cátia é esposa do ex-deputado federal Pastor Luciano, que deixou o legado político para a companheira após ascender para a Câmara dos Deputados na suplência.

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