“Como é que nós estamos vivendo, gente?”, protesta mãe de professora morta

Ela contou que a filha não temia a violência da cidade e costumava ir à casa do namorado depois que saía do trabalho

Bruno Wendel e Yne Manuela

(Foto: Arquivo Pessoal)

Jovem, querida e cheia de planos, a professora Anilene Santos Farias, 37 anos, foi assassinada, na noite de quinta-feira (18), com um tiro na testa durante um assalto na Rua do Paraíso, na Mouraria. Ani, como era conhecida, foi abordada por um criminoso quando estacionava seu carro, um Chevrolet Ágile preto, na porta do Condomínio Residencial São Bento, onde mora seu namorado. O corpo de Ani foi enterrado às 10h deste sábado (20), no Cemitério Campo Santo, na Federação.

Um morador da região, que estava perto do local no momento do crime e pediu para não ser identificado, contou que um homem ficou parado a alguns metros do carro de Ani enquanto outro abordou a professora. “Ela começou a gritar ‘não tenho nada, não tenho nada’, ele falou ‘silêncio, silêncio’. Nessa hora muita gente foi para a janela ver o que estava acontecendo. Aí só ouvimos o barulho do tiro e os dois homens correram em direção à Barroquinha”, contou.

Ani foi alvejada ainda sentada no banco do motorista. A dupla de criminosos fugiu levando apenas a carteira de habilitação da professora.

(Foto: CORREIO)

A mãe de Ani, a funcionária pública Argemira Mendes, 60, contou que o namorado de Ani, o enfermeiro Jorge, foi quem prestou os primeiros socorros e tentou reanimar a professora. Moradores afirmam que o Samu foi acionado, mas só chegou uma hora depois do crime ter ocorrido.

Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde, responsável pelo Samu, informou que o primeiro chamado foi registrado às 23h52 e três minutos depois uma unidade básica chegou ao local. Na sequência, 15 minutos depois, outra ambulância, com mais recursos, também foi ao local, mas Ani não resistiu ao ferimento e morreu no local.

Engravidar
A professora estava indo visitar o namorado, com quem estava há quatro meses. Os dois já haviam namorado na adolescência durante sete anos. Segundo Argemira, a filha planejava engravidar. “Ela estava planejando”, contou ela, que recebeu um telefonema da Polícia Militar por volta de 0h40.

(Foto: CORREIO)

“Que a minha filha fosse até assaltada porque o dia a dia hoje da nossa cidade, do nosso país é isso. Mas morta com um tiro na cabeça, com 37 anos, uma pedagoga que trabalha de manhã, de tarde e de noite? Como é que nós estamos vivendo, gente?”, protestou. Ela contou que a filha não temia a violência da cidade e costumava ir à casa do namorado depois que saía do trabalho. “A gente que alertava ela, pedia pra ela ter cuidado”, disse.

Ani morava com o pai na Lapinha e trabalhava três turnos por dia. No dia do crime, ela já havia dado aulas no Colégio Antônio Vieira, no Garcia, na Escola Municipal Adalgisa Souza Pinto, na Liberdade, e atuado na Gerência Regional da Liberdade, onde era coordenadora pedagógica.

Em nota, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) se solidarizou com familiares e amigos da professora. “Ani, como todos a conheciam, exerceu por 15 anos um importante trabalho para a Educação da nossa cidade e, neste momento de tristeza, presto, em nome da secretaria, minha solidariedade aos seus familiares, amigos e, de uma maneira especial, aos nossos professores que, diariamente, desfrutaram do seu convívio”, destacou o secretário Guilherme Bellintani.

Luto
Ani era professora do terceiro ano do ensino fundamental do Colégio Antônio Vieira. Segundo a assessoria de comunicação do colégio, ela trabalhava na instituição desde fevereiro, início do ano letivo de 2015. A escola suspendeu a festa junina prevista para ontem.

No portão da Escola Municipal Adalgisa Souza Pinto, onde Ani ensinava, à tarde, o segundo ano, foi fixado um aviso. “Foi muita tristeza para os meninos, principalmente para os alunos dela”, lamentou a diretora Rilzete Soares, 50. Por causa da tragédia, as aulas foram suspensas ontem e hoje. Antes de trabalhar na Liberdade, a professora ensinou na Escola Municipal Constança Medeiros, no Bonfim.

Segundo o delegado Adailton Adan, titular da 1ª Delegacia (Barris), a polícia já identificou um dos suspeitos, que está sendo procurado. O local não tem câmeras de segurança e ninguém ainda foi interrogado.

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