Documentos da CIA: investigações sobre Jorge Amado

Zélia Gattai e Jorge Amado em Moscou, em 1951

Folha de S.Paulo – Paula Sperb  (Colaboração)

“Garoto de recados dos comunistas.” Assim o escritor Jorge Amado é classificado em um documento confidencial da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, no início dos anos 1950.

O escritor brasileiro era um dos intelectuais monitorados pelo espiões norte-americanos por causa da ligação com o comunismo. São ao menos 27 os relatórios que mencionam o romancista brasileiro.

Qualquer indício de simpatia aos comunistas importava aos EUA durante a Guerra Fria (1945-1981). No clima de arapongagem, os passos do baiano passaram a ser seguidos.

Jorge Amado não podia nem mesmo entrar em território norte-americano. A lei de imigração passou a barrar os vistos de intelectuais “suspeitos” a partir de 1952.

O autor de “Seara Vermelha” (1946) não estava só. O escritor colombiano Gabriel García Márquez, o mexicano Carlos Fuentes, o argentino Julio Cortázar e o poeta chileno Pablo Neruda também tiveram o ingresso impedido.

Antes secretos, os documentos que mostram o interesse dos americanos pelo baiano foram liberados ao público pela CIA no final de 2016. Cerca de 11,1 mil papéis falam sobre o Brasil.

Amado também foi o escritor mais espionado em seu próprio país, de 1936 (sua primeira prisão) até 1985 (fim da ditadura), como mostrou reportagem da Folha, em 2001, ano em que morreu, aos 88.

A espionagem do governo brasileiro iniciou em 1936, quando ele foi preso pela primeira vez no Rio, acusado de participar do levante contra Getúlio Vargas. Documentos mostram que ele foi vigiado no Brasil até, ao menos, 1985, no final da ditadura militar.

Seus livros chegaram a ser queimados em praça pública por ordem de Vargas.

Na década de 1950, ele passou a figurar assiduamente nos relatórios da CIA, aparecendo quase sempre ao lado do amigo Neruda.

Ambos atuavam no Conselho Mundial da Paz, órgão criado por intelectuais em 1949, que combatia o uso de armas nucleares, como as lançadas pelos EUA no Japão, e promovia eventos culturais, como seminários e premiações.

Foi durante um congresso organizado por Amado e Neruda em Santiago, em março de 1953, que o brasileiro recebeu a notícia de que a saúde de seu amigo Graciliano Ramos havia piorado.

Ele, que havia sido convocado a deixar o Chile de imediato para comparecer ao enterro de Stálin, optou por ir ao Rio visitar Graciliano, que morreu em seguida.

“É ridículo para qualquer um acreditar que os líderes comunistas estejam interessados em intercâmbio cultural”, dizia um dos papéis sobre as atividades dos amigos.

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Leia na íntegra: Documentos da CIA revelam investigações sobre Jorge Amado 

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