Durante a cúpula do BRICS o bolsonarismo piscou. O mito está desmoronando?

Apesar das aparências, a realidade internacional está se impondo como um limite intransponível pelo discurso ideológico/religioso da anti-diplomacia bolsonariana

A linguagem é uma ferramenta essencial da política e da ciência. Mas nem uma nem outra podem ser reduzidas apenas à linguagem. Na arena política, ela encontra um limite na realidade compartilhada. Na esfera científica a linguagem é limitada pela necessidade de produção de resultados que possam ser obtidos por todos em condições análogas usando métodos semelhantes.

Uma falsificação científica pode ser criada com ajuda da eloquência, mas raramente ela deixa de ser desmistificada. Construída sobre mentiras e meias-verdades a política desmorona no momento exato em que o discurso for desafiado pela realidade.

A liberdade de Donald Trump para agir é apenas aparente. Sob pressão intensa dos democratas e correndo o risco de sofrer Impeachment, o presidente dos EUA não pode abandonar os compromissos que assumiu com os políticos e empresários que desejam menos regulamentação para continuar poluindo o meio ambiente. Se aderisse ao Green Deal nesse momento (algo que contraria os instintos empresariais, a história pessoal e os compromissos políticos de Trump), o presidente dos EUA não ganharia uma base de apoio sólida e perderia sua única base política e econômica de sustentação.

Greta Thumberg é apenas uma menina. Ela tem bons sentimentos em relação à natureza e faz discursos utilizando argumentos científicos, mas não sabe como a inércia das relações consolidadas afeta de maneira profunda e duradoura a sociedade, a economia e a política. O voluntarismo e a ingenuidade dela são imensos. É um erro depositar esperanças demais nessa Joana D’Arc ecológica. Apenas o aprofundamento da crise ecológica produzirá as condições necessárias para uma reviravolta que será necessariamente dolorosa.

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O Brasil está sendo hostilizado na Europa em virtude da catástrofe ecológica imposta ao país pelo novo governo. Os norte-americanos querem acesso total e irrestrito ao mercado brasileiro e não oferecem nada em troca. Goste ou não, Jair Bolsonaro não pode evitar a dor de preservar as parcerias internacionais consolidadas pela política externa da era Lula/Dilma Rousseff. Isso ficou bem claro durante a cúpula do BRICS que ocorreu em Brasília.

Jair Bolsonaro não é um gênio, mas ele sabe que não tem a mesma musculatura militar que Vladimir Putin. O isolamento do Brasil obrigou-o a reconhecer o tamanho econômico da China representada por Xí Jìnpíng. Nosso país precisa vender seus produtos e o capitão Bolsonaro fez o que sabe fazer melhor quando encontra pessoas poderosas: ele se mostrou dócil, pusilânime e submisso.

Apesar das aparências (digo isso pensando na invasão da Embaixada da Venezuela) a realidade internacional está se impondo como um limite intransponível pelo discurso ideológico/religioso da anti-diplomacia bolsonariana. O estrago que isso provocará na base de sustentação interna do novo governo é incerta e duvidosa. Onde quer que predomine o fanatismo a ciência nunca será capaz de fornecer respostas previsíveis e satisfatórias.

Os resultados positivos dessa cúpula do BRICS não serão colhidos imediatamente. Eles também terão que ser compartilhados com Lula e Dilma Rousseff. As mentiras e meias-verdades contadas por Jair Bolsonaro continuarão a ser desafiadas pela realidade: o desemprego aumentou, o povo empobreceu e a arrecadação fiscal continuará caindo em virtude das medidas de austeridade empregadas pelo governo. Bolsonaro dizer “I love you” para Donald Trump não vai salvar a economia brasileira da depressão econômica que parece ser desejada pelos banqueiros.

A única coisa que falta para piorar a situação do bolsonarismo é uma visita de Greta Thumberg ao Brasil. Isso é algo que o PT já deveria estar providenciando.

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