Dwight Eisenhower apresenta ao mundo ‘Teoria do Efeito Dominó’

Ideia do ex-presidente foi utilizada pelos Estados Unidos para justificar intervenções militares ao redor do mundo, como na Guerra do Vietnã
 
Em plena Guerra Fria, em 7 de abril de 1954, o então presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, expôs pela primeira vez a denominada “Teoria do Efeito Dominó”, que afirma que, se qualquer país caísse sob a influência do comunismo, os países circundantes também cairiam como se fossem uma fileira de peças de dominó em pé. A exposição foi feita em discurso na Conferência sobre a Indochina em Genebra.

Esta teoria foi usada por Washington para justificar intervenções militares em diversas partes do mundo. Essa crença levaria os Estados Unidos à Guerra do Vietnã.

Referindo-se ao comunismo na Indochina, Eisenhower disse: “ O que é o príncípio da série de dominós que caem? Você tem uma fileira de peças de dominos em pé. Você derruba a primeira peça e o que acontecerá com a última da fila ? Certamente cairá muito rapidamente. Portanto se houver um começo de desintegração democrática certamente ela terá a mais profunda das influências nos países ao redor.

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Cercado por congressitas norte-americanos, O ex-presidente dos EUA, Eisenhower, assina documento na Comissão de Energia

Em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética trouxe para a sua área de influência uma série de países da Europa Oriental. O fato levou Churchill a cunhar num discurso em 1946 no Colégio Westminster em Fulton, Missouri a expressão “Cortina de ferro” – que para muitos foi o marco inicial da Guerra Fria.

Em 1947, o presidente norte-americano, Harry Truman, declarou o que seria conhecido como “Doutrina Truman”, prometendo dar ajuda financeira à Grécia e à Turquia na esperança de que isto impediria o avanço do comunismo pela Europa Ocidental.

Mais tarde, o diplomata George Kennan anunciou a “Política de Contenção”, argumentando que a expansão do comunismo para países ao redor da URSS, ainda que com governos democraticamente eleitos – estava visando Itália e França onde os partidos comunistas eram fortes – consistiria numa ameaça inaceitável à segurança dos Estados Unidos.

Em 1949, China torna-se um país comunista ao derrocar o governo nacionalista republicano na conclusão da longa Guerra Civil (1927-1949). A tomada do poder na nação mais populosa do mundo foi uma grande perda estratégica do Ocidente.

A Coreia também caiu na área de influência da União Soviética. Em 1950 eclode uma guerra entre comunistas e republicanos envolvendo tropas da China – ao lado dos comunistas – e dos Estados Unidos – ao lado dos republicanos. A guerra terminou em 1953 com um armistício que deixou a Coreia dividida em duas nações: Coreia do Sul e Coreia do Norte.

Em março de 1954, o exército comunista e nacionalista do Viet Minh derrota e expulsa os franceses na Indochina, assumindo o controle do que viria a ser o Vietnã do Norte,  dando origem a quatro países independentes: Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja.

Eisenhower foi o primeiro a se referir a esses países – segundo ele ameaçados pelo comunismo – numa coletiva de imprensa em abril de 1954, sugerindo “aquela brincadeira com os dominós”. “Se os comunistas se consolidarem, estarão encorajados para dominar a Birmânia, Tailândia e Indonésia, todos com importantes movimentos populares influenciados pelos comunistas. Isto daria a eles uma vantagem econômica e estratégica e faria do Japão, Taiwan, Filipinas, Austrália e Nova Zelândia os próximos alvos”, afirmou.

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Presidente Eisenhower(na esquerda) e o secretário John Dulles recebem em Washington o presidente do Vietnã Ngo Dinh Diem em 1957

John Kennedy interveio no Vietnã no começo dos anos 1960, entre outras coisas, para manter o dominó em pé. A principal evidência da ‘teoria do dominó’ foi a absorção de três países do sudeste da Ásia em 1975 após a derrota das tropas norte-americanas: o Vietnã do Sul pelo Vietcong, o Laos pelo Pathet Laos e o Camboja pelo Kmer Vermelho.

Analistas políticos sustentavam que a intervenção dos Estados Unidos na Indochina dera aos “tigres asiáticos” tempo para consolidarem seu crescimento econômico e prevenirem um âmbito mais amplo do ‘efeito dominó’. Outros, mais ácidos, defendiam que o massacre do Partido Comunista indonésio foi o fator essencial para neutralizar o ‘efeito dominó’.

Críticos da Teoria do Dominó defendem que a natureza das guerras indochinesas era nacionalista e que nunca houve uma força monolítica comunista na região. Ao contrário, havia uma forte disputa entre os Estados comunistas naquele período histórico.

Essa ruptura levou tensão para Vietnã e Camboja, uma vez que o Vietnã se aproximou da União Soviética e o Camboja, da China. O clima hostil acabou se exacerbando com o fluxo de refugiados cambojanos para o Vietnã em 1975.

Disso resultou o conflito Cambojano-Vietnamita que se arrastou de 1975-1989, atingindo seu auge em 1979, quando o Vietnã derrotou o Khmer Vermelho e assumiu o controle do Camboja. Isto, por seu turno, levou a China a atacar o Vietnã em 1979 na curta Guerra Sino-Vietnamita.

Historiadores afirmam que a Teoria do Dominó foi usada como tática para espalhar a “ameaça vermelha” e justificar intervenções militares de Washington a fim de assegurar uma sólida posição geoestratégica naquela vasta região.

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