Por Larissa Rodrigues, do Blog do Magno Martins
O Governo Raquel Lyra (PSD) vai entrar para a história como um período da política pernambucana, no mínimo, curioso. Foi preciso uma ampla mobilização dos professores da rede estadual de ensino, dos deputados da oposição e do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Álvaro Porto (PSDB), para que o projeto de reajuste da categoria, de autoria do próprio governo e negociado com a chefe do Poder Executivo, aumentando em 6% os salários, fosse aprovado na Casa.
Por pouco, o reajuste dos docentes não foi aprovado, na tarde de ontem (9), sem a participação dos deputados aliados de Raquel, que era a principal interessada em colher os frutos da negociação com os professores. A bancada de oposição da Alepe e Álvaro Porto precisaram se unir à pressão dos profissionais para garantir quórum na sessão plenária.
Tudo porque a governadora não queria que nada mais fosse votado na Assembleia até que o projeto que autoriza o Estado a contratar R$ 1,5 bilhão em empréstimo seja apreciado, mesmo que com essa estratégia fosse preciso sacrificar todo o capital político com professores e quem mais passasse pela frente. Raquel é a própria definição de “governança com o fígado”.
O resultado é que a aprovação do reajuste dado à educação pelo Governo do Estado se transformou em uma vitória da oposição e de Álvaro Porto, que levantaram a bandeira dos professores e, pasmem, com todo o apoio da bancada do PL, partido bolsonarista sem muita sintonia com as pautas dos trabalhadores.
Depois de aprovado o projeto, sobrou para a deputada Débora Almeida (PSDB), uma das mais próximas à governadora, “pagar o pato” ao subir à tribuna, levando uma sonora vaia dos professores, que lotaram as galerias da Alepe para acompanhar a votação e viram na figura de Débora alguém que poderia, naquele momento, receber a manifestação de repúdio à postura do governo. Débora foi defender a votação do projeto de empréstimo que tem causado toda a celeuma recente.
É quase inacreditável que o ápice da falta de diálogo tenha produzido uma situação assim e que a articulação política de Raquel, uma ex-prefeita, ex-deputada, ex-secretária, seja tão amadora. Até o deputado João Paulo (PT), aliado da governadora, deixou um recado para os articuladores do Palácio.
Pela manhã, em reunião comandada por Álvaro Porto com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), João Paulo lembrou que “a política é a arte do possível”, ou seja, votava-se os projetos possíveis e os demais se negociava, como se faz quando o processo é menos emocionado.
Sintepe ficou grato – A presidente do Sintepe, Ivete Caetano, afirmou: “o que fizeram com o projeto da educação revelou uma grande incapacidade do governo em dialogar com a Casa Legislativa. São poderes constituídos, são pessoas com mandato garantido pelo povo. É preciso que os poderes tenham mais maturidade e responsabilidade. A educação não pode ser colocada no meio de uma disputa política. Mas venceu o consenso, venceu a responsabilidade. Os deputados compareceram, foram 35 deputados. Perdeu quem quis colocar o projeto de lei como negociação. Mas ganharam a escola pública, educação, os trabalhadores. Queremos agradecer ao presidente dessa Casa, Álvaro Porto, e a todo mundo que atendeu a reivindicação do Sintepe”.