Massacre de Guernica, que inspirou Picasso, completa 80 anos

Bombardeio nazista antecipou tomada da cidade pelos franquistas e deixou mais de 1.600 mortos; Picasso vetou que sua pintura fosse levada à Espanha durante a ditadura, e obra só chegou a Madri em 1975

A segunda-feira 26 de abril de 1937 era dia de feira na cidade espanhola de Guernica. No entanto, já no começo da tarde, todas as barracas já tinham sido desmontadas. A linha de frente da Guerra Civil da Espanha era próxima, os franquistas já controlavam o município vizinho de Vitoria e havia pouco para vender ou para comprar, a comida ficava cada vez mais escassa.

Às 16h30 do horário local, no céu da cidade símbolo do nacionalismo basco, aparece o primeiro avião alemão, o do “barão negro” Rudolf Von Moreau, o “herói” da Legião Condor, força de intervenção aérea enviada pelo líder nazista Adolf Hitler para a Espanha sob as ordens do general Wolfgang Von Richtofen para ajudar o futuro ditador Francisco Franco a sufocar com sangue a República espanhola.

O Heinkel He-51 fez um primeiro voo baixo sobre a cidade. Depois ele voltou e liberou as três primeiras bombas. Neste momento, outras aeronaves se aproximaram. Algumas delas começaram a sobrevoar Guernica, apoiadas pelos italianos da Aviação Legionária do fascista Benito Mussolini, e a jogar centenas de bombas, aterrorizando os habitantes.

O bombardeio durou três intermináveis horas, com Heinkel He-51 , Junker Ju 52, Dornier Do 17, Messerschmitt Bf 109, e Fiat CR.32 que lançaram no solo do município cerca de 31 toneladas de bombas, que destruíram 85% do centro de Guernica, segundo a Fundação Museu da Paz de Guernica.

O governo basco contou 1.654 mortos e centenas de feridos. Apenas no “refúgio” artesanal da Calle Andra Marti, afirmou o prefeito da época, José Labauria, faleceram 450 pessoas, todas elas civis, mulheres, idosos e crianças.

Flickr CC / Tony Hisgett

Reprodução da obra de Pablo Picasso em mural em Guernica, cidade que dá nome à obra e onde ocorreu o bombardeio nazista em 1937

O bombardeio de Guernica foi o primeiro ato de “guerra total” dos tempos modernos, pensado não para atingir as bases militares do inimigo, mas sim para aterrorizar a população civil.

“Na Espanha, tive a oportunidade de testar a minha jovem força aérea. Os meus homens fizeram a experiência”, confessou o político e militar alemão Hermann Goering durante seu depoimento no julgamento de Nuremberg, que processou vários líderes nazistas pelos seus crimes cometidos.

A estratégia, que usa do terror para desmoralizar o inimigo, depois foi repetida pelos nazistas em várias outras cidades durante a Segunda Guerra Mundial e serviu de inspiração para alguns ataques terroristas presenciados nos conflitos mais recentes.

Pouco tempo depois do bombardeio, Guernica caía nas mãos de Franco e dos fascistas, que primeiro destruíram os registros civis para que o massacre não fosse lembrado. No entanto, os enviados especiais e internacionais que estavam no local contaram a história do horror vivido no município espanhol.

As matérias de George Steer, do “Times”, por exemplo, inspiraram o famoso pintor Pablo Picasso a fazer uma de suas obras mais conhecidas: o quadro “Guernica”. A peça foi exposta pela primeira vez no pavilhão espanhol da Exposição Universal de Paris de 1937.

Antes de morrer, o pintor, um dos maiores mestres do cubismo do mundo, vetou que sua pintura fosse levada à Espanha durante a ditadura. O quadro só chegou a Madri depois da morte de Franco, em 1975.

Pedro Belleza / Flickr CC

“Guernica”, de Picasso, se encontra exposto no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, capital espanhola

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