MP investiga uso do kit covid em pacientes da Prevent Senior

Órgão investiga a relação das mortes com o uso dos medicamentos

Agência Brasil
Foto: Divulgação/Prevent Senior
Foto: Divulgação/Prevent Senior

 

Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), familiares de pacientes da operadora de saúde Prevent Senior, que foram vítimas da covid-19, relataram que os parentes internados em hospital da rede ou que faziam tratamento em casa tomaram medicamentos do chamado “kit covid” e acabaram morrendo. O órgão investiga a relação das mortes com o uso dos medicamentos.

O promotor Everton Zanella, que integra a força-tarefa que investiga os casos, disse que as seis pessoas ouvidas até o momento pela promotoria são familiares de seis dos nove pacientes que morreram durante um estudo da Prevent Senior que testou os medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina – ambos não tem eficácia comprovada contra a covid-19. Os casos integram um dossiê entregue por médicos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

“O que a gente já ouviu foram familiares que falaram que houve uso desses medicamentos de ineficácia comprovada, que as pessoas faleceram na rede hospitalar ou até mesmo em casa mas tomando alguns medicamentos indicados”, disse Zanella, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (8). “Nós temos que verificar pericialmente se esse uso de medicação efetivamente leva ao óbito”.

De acordo com os relatos dos familiares, os médicos que atenderam os pacientes, ao solicitarem a assinatura do termo de consentimento para tratamento com o kit covid, afirmaram que aqueles medicamentos poderiam salvar suas vidas.

Além desses casos que deram origem à investigação, o MPSP anunciou que recebeu 12 denúncias de casos semelhantes, em que foram receitados medicamentos do kit covid, no entanto, não houve necessariamente morte dos pacientes.

 

Assumir risco

O promotor Nelson dos Santos Pereira Junior, que também estava na coletiva, disse que “um dado importante é verificar se a pessoa era cardíaca. Se ela já tinha uma patologia e recebeu o medicamento, isso é um indicativo de que alguém ali assumiu um risco grande de levar essa pessoa a óbito ou tenha levado.”

Os promotores investigam se houve o dolo eventual, ou seja, se a operadora de saúde ou aqueles que manipularam esses medicamentos assumiram o risco de matar alguém ou que esse resultado pudesse ocorrer sem que eles se importassem.

Alteração de prontuários

Haverá apuração sobre possíveis alterações de prontuários médicos e falta de comunicação de casos de covid-19 às autoridades sanitárias. Segundo o promotor Zanella, há relatos divulgados pela imprensa de que poderia ter havido falsificação ou omissão na declaração de óbito de determinados pacientes para não constar a covid-19 como causa mortis.

“Isso poderia configurar alguma falsidade ideológica em documento. E evidentemente que também apuramos eventuais crimes contra a saúde pública, já que estamos em uma pandemia, de forma que é necessário, é obrigatório, informar dados sobre a doença. É necessário ter esses dados para um maior controle da pandemia”, disse Zanella.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *