Mulher que viu homem ‘batendo uma’ no cinema diz: ‘Tratam como se fosse maluca’

Caso aconteceu no Cinemark do Botafogo Praia Shopping
Caso aconteceu no Cinemark do Botafogo Praia Shopping 

Na última semana, uma jovem de 23 anos impressionou a internet com um relato de assédio sexual que sofreu durante uma sessão de cinema do filme “O Regresso”, no Botafogo Praia Shopping. Ao olhar para o lado, acabou assistindo a uma cena tão indesejada quando assustadora e que, para sua angústia, não era apenas ficção: um homem se masturbava do seu lado. Em entrevista ao EXTRA, a estudante conta detalhes sobre a experiência, fala de como as pessoas têm reagido ao seu protesto e faz, ainda, um apelo contra o que considera ser uma postura machista da sociedade que, segundo ela, não trata a situação com o peso que merece.

— Muitas vezes, mulheres aprendem desde crianças que as coisas são assim, que temos que tolerar assédio, passada de mão, abusos no ônibus e no metrô e cantada na rua com resignação, e aí a gente corre o risco de acabar achando que é maluca quando se incomoda com isso. Esse é um conceito difícil de superar, mas eu tenho no meu dia a dia esse hábito de não me calar, de me posicionar. Não podemos diminuir a importância disso: ele sabia o que estava fazendo, tinha consciência de que estava errado — diz a estudante, que registrou queixa na 10ª Delegacia de Polícia, em Botafogo.

A jovem conta que, após desabafo que escreveu em seu perfil na rede social, recebeu diversos relatos de situações parecidas sofridos por mulheres de várias gerações, e condena que estabelecimentos não tenham estrutura de segurança para inibir esse tipo de postura.

— As mulheres estão acostumadas a mudar de lugar quando são assediadas ou vão embora. É como se nós estivéssemos erradas, mas não é assim. Quero principalmente que o shopping e o cinema tenham uma estrutura melhor para atender esses casos, porque tenho certeza de que teriam agido melhor se alguém tivesse roubado a minha bolsa. Não recebi qualquer suporte depois, apenas quando meu post no Facebook começou a repercutir — diz.

A estudante explica que desconfiou das atitudes do homem desde que entrou na sala, mais quarenta minutos atrasado, pela forma como ocupou a cadeira e parte do seu espaço e, principalmente, porque ele tentava se esconder, como se procurasse se tampar com as mãos, toda vez que ela olhava em sua direção.

— Ele ficava meio que mexendo a mão, mas estava muito escuro. Só consegui ver que ele estava se masturbando quando uma cena de neve iluminou as cadeiras. Foi quando comecei a gritar bem alto e ele fugiu. Até tentei persegui-lo, mas fiquei com medo porque ninguém veio me ajudar de imediato— conta a jovem, que faz ainda um alerta: — Muita gente não leva a sério porque ele não me tocou, mas essa é uma forma de assédio. De certa forma, fico feliz que tenha acontecido comigo, porque consigo me defender, mas podia ter sido com uma criança. Um homem que faz isso não se importa com as consequências dos seus atos — diz.

Procurado pelo EXTRA, o Botafogo Praia Shopping enviou a seguinte declaração:

O Botafogo Praia informa que foi ao encontro da cliente assim que acionado pela operação de cinema e esclarece que vigilantes e brigadistas trabalham em esquema de rondas em todos os pisos e nas saídas do empreendimento. O shopping reitera que instaurou processo interno para apuração dos fatos narrados junto a operação e reforça que colabora com as autoridades locais, prestando todos os esclarecimentos.

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