Opinião do JC: O fascismo é o outro

Fotos: Ricardo Stuckert/Divulgação e Vladimir Platonow/Agência Brasil
Fotos: Ricardo Stuckert/Divulgação e Vladimir Platonow/Agência Brasil

Editorial do Jornal do Commercio desta quinta-feira (18)

O desafio do PT

Se tomada por base a premissa democrática do rodízio e da substituição, no poder, dos representantes eleitos pelo povo, a política é o espaço do diálogo, e não, da dispensa de interlocutores. Da ampliação do debate, e não, da redução dogmática. Da construção de consensos, e não, da eliminação da crítica. O que o Partido dos Trabalhadores (PT) colhe nas eleições de 2018, até agora, vem de anos de práticas e discursos contrários à natureza da política. Como o JC abordou em reportagem na edição de ontem, o partido de Fernando Haddad não conseguiu – repita-se, até o momento – reunir em torno de sua candidatura um apoio consistente. Com o distanciamento de Jair Bolsonaro (PSL) na frente das sondagens de opinião para o voto no dia 28, o que se vê é um PT cada vez mais ilhado.

Desde 2002, seja nas campanhas, seja no exercício do poder, o PT assumiu mais posturas excludentes, politicamente, do que no sentido de alargar sua base representativa. Excluindo até parte da população brasileira, ao querer criar reserva de mercado para bandeiras de igualdade, tolerância e justiça social – que são, antes de mais nada, humanistas, não sendo propriedade da esquerda, e muito menos do PT. Diversas pautas em prol das minorias, por exemplo, possuem o cunho liberal quando levantadas em outros países.

Uma prévia do que o partido enfrenta hoje foi dada nas últimas eleições, em 2016, para a prefeitura de São Paulo. O mesmo Fernando Haddad perdeu a reeleição, em primeiro turno, para João Dória, que tenta este ano ser governador. E a derrota teve um gosto amargo para o PT, que chegou a ser estudado por pesquisadores ligados ao partido, por causa do cansaço detectado na população das periferias da maior cidade do Brasil, em relação ao discurso e às promessas petistas. Há dois anos, a eleição de Dória foi um aviso. Às vésperas do segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, o PT parece demonstrar que não compreendeu o recado das urnas paulistanas.

O antipetismo, em boa medida, foi urdido pelos próprios petistas. Uma atrás da outras, portas foram sendo fechadas a potenciais aliados. Como a ex-ministra Marina Silva, bombardeada pela campanha do PT em 2014. Sem a concretização de uma aliança para o segundo turno, a solidão de Haddad se transforma em motivo de desavença. É o que expôs a fala de Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, ao discursar para um grupo de petistas clamando por reconhecimento de erros. O PDT dos irmãos Gomes poderia até conferir apoio de modo efetivo, mas o campo minado pelo PT no primeiro turno dificultou as coisas.

A desqualificação de adversários e ex-aliados é complementada pela desqualificação de cidadãos que não votam no PT. A democracia petista se restringe ao governo de filiados. O fascismo é o outro. A pregação da tolerância logo vira intolerante, se a bandeira não for exclusiva do partido. O ressentimento de parcela da população se junta ao isolamento político num quadro eleitoral que promete deixar muitas lições.

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