Polícia concluiu quase 100 inquéritos de homicídios sem apontar culpados

Por Raphael Guerra 

De cada dez homicídios registrados em 2017, apenas três tiveram as investigações concluídas. Foto: JC Imagem/Arquivo

Se não bastassem os altos números da violência, Pernambuco conta com uma alta taxa de crimes sem solução. De cada dez homicídios registrados em 2017, apenas três tiveram as investigações concluídas. As estatísticas foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação.

Dos 5.426 assassinatos contabilizados no Estado no ano passado, apenas 1.694 tiveram os inquéritos encerrados pela Polícia Civil e remetidos à Justiça com a identificação dos culpados. Outras 98 investigações também foram concluídas, mas a polícia não conseguiu descobrir os autores dos crimes.

Dos 790 homicídios no Recife, a Polícia Civil concluiu 234 investigações. Em cinco, porém, os policiais não conseguiram apontar quem foram os responsáveis pelos crimes.

Já na Região Metropolitana (sem englobar o Recife), 1.576 inquéritos de homicídios foram abertos em 2017. Do total, 299 foram encerrados com a identificação dos responsáveis. Outros oito foram remetidos à Justiça sem apontar os culpados.

A sensação de impunidade é ainda maior no Interior, como mostram as estatísticas. No ano passado, 3.060 pessoas foram mortas. Só 1.166 investigações foram concluídas com definição de autoria do crime. A Polícia Civil concluiu outros 85 inquéritos, mas não conseguiu identificar os criminosos.

Para o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), os números são um reflexo da falta de investimentos na área de segurança. Em dossiê, enviado em junho deste ano ao Governo do Estado, a categoria pediu melhorias físicas para as delegacias, além do aumento do efetivo policial para dar conta de tantos inquéritos.

POLÍCIA RESPONDE

O gestor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Guilherme Caracciolo, afirmou que a Polícia Civil vem trabalhando para melhorar esses índices. Segundo ele, 36,21% dos homicídios registrados em 2018 já tiveram as investigações concluídas e remetidas à Justiça.

“Esse número corresponde a uma das melhores taxas do Brasil. Existem Áreas Integradas de Segurança, como a AIS20, que corresponde a Afogados da Ingazeira (Sertão de Pernambuco), com 82% dos inquéritos de homicídio concluídos com autoria e remetidos a Justiça. Em Caruaru (AIS14) a taxa é de 51%”, disse.

Questionado sobre os inquéritos que são encerrados sem a identificação dos autores dos crimes, Caracciolo minimizou o problema. “O número de inquéritos sem autoria corresponde a menos de 2% dos procedimentos remetidos a Justiça, em 2018. Isso acontece somente quando o delegado avalia que já esgotou todas as possibilidades de investigação. Mas o inquérito pode ser retomado caso apareçam novas provas.”

MPPE ACOMPANHA CASOS

O promotor de Justiça Luís Sávio Silveira afirmou que o Ministério Público de Pernambuco efetua controles das investigações criminais e que está atento à necessidade de exigir sempre a boa qualidade da prova. “Focamos um ponto futuro, isto é, um julgamento com solidez, além da materialidade e autoria. Por isso, muitas vezes, o próprio MP requer diligências com o retorno do feito para as delegacias”, disse. (JC)

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