Agressões físicas a jornalistas aumentaram em 2023, atingindo 80 profissionais

Por Folha de São Paulo – O número de jornalistas agredidos fisicamente aumentou 8% no ano passado, chegando a 80 profissionais no total, de acordo com dados da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).

A Abert atribui a alta à cobertura dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e dos dias que se seguiram, com o desmantelamento de acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis do Exército.

Segundo o presidente da Abert, Flávio Lara Resende, os maiores ataques e agressões foram feitos naquele momento, em todo o Brasil, principalmente nas cidades onde havia mais acampamentos.

A entidade ainda manifesta preocupação com o clima de polarização nas eleições municipais deste ano. Embora não espere o mesmo grau de divisão e violência que marcou a disputa presidencial entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) em 2022, a Abert afirma que é preciso ser vigilante para evitar uma alta nos casos.

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Militantes bolsonaristas invadem as sedes do Congresso, do Supremo e o Palácio do Planalto.

“Essa polarização foi extremamente ruim para o Brasil e continua sendo ainda em grande parte, porque acaba atacando um profissional que muitas vezes está informando uma coisa que nem ele concorda ou deixa de concordar. É um absurdo você ter um jornalista sério, um repórter com um histórico de trabalho extremamente competente e profissional, e ele ser atacado por causa disso”, diz Resende.

A Abert apresentou nesta quinta-feira (4) o relatório Violações à Liberdade de Expressão de 2023. Os dados mostram que foram 45 ocorrências que resultaram nos 80 profissionais agredidos —cada caso pode resultar em mais de uma vítima.

No cálculo geral, levando em conta casos de ameaças, intimidações, censura e importunação sexual, houve queda de 19% na violência não letal (foram 111 episódios no ano passado, envolvendo 163 jornalistas e veículos de comunicação).

A Abert afirma que o número é considerado alto, tendo em conta que a imprensa brasileira sofreu um ataque a cada três dias, em média.

Houve ainda um caso de assassinato de um profissional de imprensa: Thiago Rodrigues, morto com nove tiros durante uma confraternização em Vicente de Carvalho, no estado de São Paulo. Desde 2012, foram registrados 26 assassinatos de profissionais da imprensa. Apenas nos anos de 2019 e 2021 não houve casos.

A entidade ainda chama a atenção para os casos de ataques virtuais contra jornalistas. Cita que, desde 2019, foram 10 milhões de agressões no âmbito das redes sociais.

A Abert defende uma regulamentação do uso das redes sociais para responsabilizar os autores de crimes nesse ambiente virtual, como as ações de ameaça e intimidação contra a imprensa.

“Ficou muito fácil atacar alguma pessoa nas redes sociais. É necessário que o Brasil, e principalmente o Congresso Nacional, traga regras muito claras de como punir essas pessoas que estão fazendo isso”, afirmou Resende.

“A gente detesta essa palavra regulação e, principalmente, censura. Estamos aqui pela liberdade de expressão, pela liberdade de imprensa, mas é muito importante que de alguma forma se encontrem [formas], que você consiga barrar isso.”

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