A cada três dias, uma escola da rede municipal do Rio é invadida ou assaltada

Corredor da Campos Salles: grades e cadeados lembram bunker. Ou prisão
Corredor da Campos Salles: grades e cadeados lembram bunker. Ou prisão Foto: Rafael Soares
Rafael Soares

Adriana Lemos Pereira tinha 6 anos quando entrou pela primeira vez na Escola Campos Salles. O ano era 1972. Pelas lembranças da ex-aluna, o colégio, um prédio com muros de pedra construído em 1909 encravado no Campo de Santana, Centro do Rio, parecia um castelo. Hoje, 45 anos depois, Adriana é diretora da unidade, transformada num Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI). O prédio ainda é o mesmo. Só não lembra mais o castelo de outrora. Assaltada quatro vezes apenas no ano passado, a escola teve todas as suas portas e janelas gradeadas e trancadas com cadeados e chaves. Hoje, parece um bunker. Ou uma prisão.

A Campos Salles, onde estudam 140 crianças de 3 a 6 anos, é apenas uma entre as 113 escolas municipais do Rio assaltadas ou invadidas entre janeiro de 2016 e abril deste ano. No total, foram 157 furtos, 19 invasões e um caso de dano ao patrimônio. Neste primeiro dia da série “Educação roubada”, o EXTRA revela que, em média, uma escola foi alvo de bandidos a cada três dias. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação, com a Secretaria municipal de Educação.

EDI Campos Salles: quatro furtos em um ano
EDI Campos Salles: quatro furtos em um ano Foto: Marcelo Theobald

As centenas de bens, entre computadores, aparelhos de ar-condicionado, televisores e até brinquedos educativos representam um prejuízo material que a secretaria não consegue botar na ponta do lápis. O dano maior, entretanto, é impossível de medir: o quanto os alunos perderam, numa equação que soma a falta de recursos ao medo da violência.

— O mais triste é que não consigo repor tudo o que é furtado. Só tenho a verba de manutenção e preciso escolher entre comprar massinha para os alunos ou tubos de cobre que foram levados — conta Adriana, que guarda em sua sala uma pasta com 50 ocorrências de furtos na escola desde a década de 70.

Na sala da diretora, pasta com registros de ocorrência
Na sala da diretora, pasta com registros de ocorrência Foto: Rafael Soares

Câmeras para conter furtos

No ranking das unidades da rede municipal mais furtadas, o EDI Campos Salles só aparece atrás da Escola Tiradentes, que fica a menos de um quarteirão de distância, na Rua Visconde de Rio Branco. Nas seis ocorrências registradas pela direção da escola, foram comunicados os furtos de um computador — usado para atividades na sala de leitura —, dois notebooks, seis ventiladores, duas caixas de som e até itens da cozinha, como panelas de pressão, facas e um liquidificador.

O computador furtado não foi reposto. Com a verba de manutenção repassada pela prefeitura, a direção do colégio decidiu, após o último dos furtos, em plena véspera do Natal do ano passado, instalar quatro câmeras de segurança. Desde então, nenhum assalto foi registrado.

Câmeras foram instaladas na Escola Municipal Tiradentes
Câmeras foram instaladas na Escola Municipal Tiradentes Foto: Rafael Soares

Depoimento de Adriana Lemos Pereira, diretora do EDI Campos Salles

“Você não imagina o quanto é triste para uma professora chegar à escola, ver tudo revirado e depois ter que avisar aos alunos e pais que não vai ter aula no dia porque a perícia precisa trabalhar. Não sei o que passa na cabeça das pessoas que assaltam uma escola. Aqui já roubaram até um velocípede usado pelas crianças na recreação. São moradores de rua que furtam para revender. Por isso, os tubos de cobre dos aparelhos de ar-condicionado são os objetos mais visados. Quatro desses já foram levados. Conseguimos repor três. Mas um salão onde os alunos fazem Educação Física, que deveria ser climatizado, não tem ar-condicionado”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *